Há muito que deixei de ter paciência para assistir aos telejornais de hora e meia das televisões generalistas. Para além da incessante lavagem cerebral com as teorias das inevitabilidades e do empobrecimento não tenho a mínima pachorra para assistir a reportagens da treta que servem única e exclusivamente para encher chouriços.
Posto isto, costumo assistir diariamente ao Hoje às 22h na RTP2, acima de tudo pelo poder de síntese com que são veiculadas as principais imagens do dia, porque o conteúdo é basicamente o mesmo de sempre. Meia-hora é tempo mais do que suficiente para me poder considerar minimamente actualizado. No entanto, tenho que confessar o tremendo esforço de tolerância que faço nas noites em que o programa é apresentado pela execrável Sandra Felgueiras. Sim, essa mesmo, a jornalista responsável pelas reportagens mais parciais, descabidas e a roçaram a xenofobia transmitidas, desde que me lembre, pelo canal público de televisão. Refiro-me naturalmente às peças realizadas sobre as manifestações na Grécia no passado mês de Julho em que esta jornalista classifica o nível de vida grego três vezes superior ao português com base (pasme-se!) no preço de um quilo de arroz, em que afirma convictamente que o preço dos combustíveis na Grécia eram os mais elevados da Europa (quando afinal se situavam em quarto lugar) e, entre outros, na acusação vil e indiscriminada de corrupção e corporativismo a todos os funcionários públicos, tudo isto baseado em rumores e boatos, que me sugerem de imediato um profundo ódio social. Para os especuladores financeiros nem uma palavra. O código deontológico desta jornalista há muito que deve estar no lixo ou, quando muito, esquecido dentro de algum saco azul...
A notícia do dia foi, naturalmente, a acusação de homicídio a Duarte Lima. Em estúdio o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, para explicar à jornalista Sandra Felgueiras os contornos de uma possível extradição do antigo líder parlamentar do PSD para o Brasil. Peremptório, o advogado explicou de forma bastante clara e concisa que não existe acordo de extradição entre os dois países. Não satisfeita, a jornalista, retorquiu, questionando sobre a hipotética existência de alguma situação específica de possível extradição. Marinho Pinto não se deteve e contrapôs com o exemplo do Padre Frederico. E eu que, durante breves momentos, cheguei a pensar que da boca do desconcertante advogado iria sair algo como: "Olhe, repare-se no exemplo da senhora sua mãe. Também fugiu para o Brasil e não foi extraditada porque tem nacionalidade brasileira."
Com tudo isto lembrei-me de outro episódio ocorrido com esta jornalista e neste mesmo programa. Estamos em Janeiro deste ano, nas vésperas das Eleições Presidenciais e, desta vez, eram dois os convidados, João Soares e um antigo eurodeputado do PSD que, sinceramente, não me recordo do nome e, valha a verdade, nenhuma influência tem para o decurso desta história. A jornalista saúda os políticos e começa por perguntar ao antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa a opinião sobre a postura do seu pai que não apoia Manuel Alegre, candidato oficial do PS. João Soares não sente o toque e responde calmamente que apoia Alegre de forma convicta, nada tendo a ver com a decisão do seu pai e está ali apenas para responder por si. Pouco contente com a resposta, a jornalista, adorna a questão, acabando no essencial por a repetir. Agora, João Soares não disfarça o incómodo e responde algo como isto: "Se quer saber a opinião do meu pai sobre o facto de não apoiar Manuel Alegre vai ter que o convidar e perguntar-lhe directamente! Eu estou aqui para falar por mim!"
Serei só eu que embirro particularmente com esta jornalista ou a mediocridade e a desfaçatez são mesmo a sua imagem de marca?