domingo, julho 18, 2010

Citações de Saramago (parte I)


"Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos."

Cadernos de Lanzarote - Diário III, 1998

quinta-feira, julho 15, 2010

o que é português é bom (parte I)


Quatro anos depois, os Santos & Pecadores estão de regresso com um novo álbum, Energia, onde se destaca Tela, tema principal da banda sonora do filme Contraluz, que estreia no próximo dia 22.


Santos & Pecadores "Tela"

domingo, julho 11, 2010

Mundial: final


Holanda 0 - 1 Espanha
Noventa minutos não foram suficientes para decidir quem se sagraria o novo e inédito campeão mundial. E faltou muito pouco para que os trinta minutos suplementares também não o fossem. Valeu o golo solitário de Iniesta - a escassos quatro minutos do final do tempo extra - confirmando (finalmente!) a superioridade que a roja demonstrou sobre a laranja durante quase todo o encontro.
A Espanha entrou fortíssima, na senda do que havia feito perante a Alemanha, empurrando a Holanda de forma inapelável para o seu último reduto ofensivo. Sérgio Ramos desfrutou de duas boas chances logo a abrir o desafio, seguidas por um volley perigoso de David Villa. Adivinhava-se um verdadeiro massacre, mas a verdade é que a partir dos 15' a laranja equilibrou a partida, adiantou as linhas defensivas, não permitindo que a roja mantivesse a fluência e intensidade iniciais.
A partida caiu então numa toada quezilenta e agressiva, roçando mesmo a violência numa ou noutra situação. Os médios defensivos laranja, De Jong e Van Bommel, estiveram em destaque pela negativa.
Na segunda metade continuou o domínio territorial espanhol, sempre com o seu futebol de passe curto e de progressão em apoio. A agressividade de parte a parte também não diminui. A única verdadeira diferença residiu no facto de Robben não ficar preso ao flanco direito, aparecendo várias vezes no corredor central, duas delas em posição privilegiada para marcar, valendo as intervenções decisivas de Casillas.
Com o avançar do tempo de jogo começava a guerra das substituições, amplamente ganha por Del Bosque. Enquanto Van Marwijk trocava Kuyt por Elia e Van der Vaart por De Jong (esta já no prolongamento) sem grandes resultados práticos, o técnico castelhano apostava com sucesso no veloz Navas e no cerebral Fabregas, nos lugares de Pedrito e Xabi Alonso, para desmoronar o bloco defensivo holandês.
A Espanha cresceu com as alterações, alargou o seu jogo às faixas, nomeadamente pela direita, onde Navas ultrapassava quase invariavelmente o veterano Van Bronckhorst, o que terá mesmo originado a substituição do capitão laranja.
Iniesta vinha em crescendo e combinava de forma exuberante com Xavi e Fabregas, provocando enormes brechas no fatigado corredor central holandês. O golo parecia iminente, mas por três vezes durante a primeira parte do prolongamento foi adiado de forma impressionante por Stekelenburg.
Já na segunda metade do tempo extra seria Heitinga a travar Iniesta, quando este se isolava rumo à baliza laranja. Segundo amarelo e consequente vermelho para o defesa central. Holanda com 10, anteviam-se 10 minutos finais de intensa pressão espanhola. Já com Fernando Torres em campo e na sequência de lance extremamente confuso, Fabregas descobre Iniesta solto na área, endossa-lhe a bola e o catalão dispara fortíssimo, batendo sem apelo nem agravo o guardião holandês! Estava feito o primeiro e único golo da partida! Espanha podia festejar, o primeiro título mundial já não lhe fugiria!

O herói: Iniesta
A primeira parte não lhe correu de feição, perdendo algumas bolas que não lhe são habituais, ressentido-se disso mesmo as normalmente seguras e eficazes transições ofensivas espanholas. Bastante castigado pelos defesas contrários, soube libertar-se da forte pressão, ganhando claramente com o surgimento de espaços entre as duas linhas defensivas holandesas.
Revelou o entendimento habitual com Xavi - jogam praticamente de olhos fechados - aproveitando (e de que maneira!) a excelente entrada no encontro de Fabregas, como se comprovou no lance do golo.

O vilão: Van Bommel
Se prémio houvesse para jogador mais caceteiro da competição iria directamente e sem discussão para o médio defensivo laranja. Tal como havia acontecido perante o Brasil e o Uruguai, voltou a cometer entradas duríssimas e completamente às margens da lei, valendo-se da enorme experiência e de alguma sorte à mistura, leia-se condescendência do árbitro, para evitar a merecida expulsão.

quarta-feira, julho 07, 2010

Mundial: meias-finais (jogo 2)


Alemanha 0 - 1 Espanha
O futebol tiki-taka da roja foi irresistível para a mannschaft! Como um verdadeiro colete de forças, a sucessão infinita de passes exibida pela formação espanhola sufocou quase por completo a equipa germânica.
Arte, paciência e segurança. Eis as três palavras chaves do jogo espanhol. Cientes da supremacia técnica, os baixinhos espanhóis apresentaram o seu futebol característico, o toca e foge em espaços curtos, futebol apoiado a toda a largura do terreno, até atingirem a extrema defensiva alemã.
Sem a mínima capacidade para recuperar a posse de bola em zonas avançadas, a Alemanha viu-se impossibilitada de praticar o futebol que mais gosta, as transições rápidas e o contra-ataque. Apenas por uma vez, numa conclusão ao segundo poste de Kroos, os germânicos estiveram perto do golo, o que é manifestamente pouco para quem tinha humilhado Inglaterra e Argentina.
Não deixa de ser irónico que Puyol, o mais rudimentar dos jogadores espanhóis e um dos poucos herdeiros da célebre furia roja, tenha sido o autor do golo solitário da partida, num cabeceamento notável de força e impulsão, onde ficou bem patenteada a união entre dois estilos de jogo completamente antagónicos por parte daquilo que é a história da selecção de Espanha.
O futebol técnico e rendilhado triunfou perante a potência e a velocidade, num desafio quase tirado a papel químico da final do Euro'2008.

O herói: Xavi
O maestro da orquestra castelhana. Exibição monumental do centrocampista do Barcelona a pautar todo o jogo da formação ibérica. Não obstante a baixa estatura e o pouco poder de explosão, compensa essas lacunas com uma capacidade técnica, táctica e física simplesmente fantásticas, que lhe permitem ser considerado quase unanimemente como o melhor médio organizador dos últimos anos. E se já não bastasse tudo isto, é do seu pé direito que sai a bola redondinha para o cabeceamento fulgurante de Puyol!

O vilão: Pedro Rodriguez
O jovem extremo catalão fez uma excelente actuação, dando largura e profundidade ao jogo espanhol, mas poderia ter estragado tudo quando ao minuto 81' é extremamente bem lançado por Xavi (quem mais haveria de ser) surgindo em posição de 2 contra 1, não endossando a bola a Fernando Torres nem efectuando o remate, perdendo-se numa tentativa de drible inconsequente!
A Espanha poderia ter sentenciado o jogo e não o fez. Pedrito revelou alguma imaturidade e inexperiência que lhe poderão vir a custar o lugar na final, em detrimento de Silva ou Fábregas.

sábado, julho 03, 2010

Mundial: quartos-de-final (jogo 4)


Paraguai 0 - 1 Espanha
Martino armou uma estratégia de contenção, actuando na expectativa perante a inigualável capacidade de posse e circulação de bola da Espanha. O plano resultou em cheio durante o primeiro tempo, período em que a formação ibérica, apesar do intenso domínio territorial, afunilava em demasia o seu jogo, levando escasso perigo à baliza adversária.
Bem organizado, o Paraguai respondia quando podia e sempre no contra-ataque, na maioria das vezes por Valdez, avançado irreverente e veloz, que colocou em sentido a defensiva espanhola, acabando mesmo por marcar em cima do final da primeira parte, lance invalidado por suposto off-side.
No segundo tempo o cariz da partida não se alterou, com a emoção a surgir perto da hora de jogo quando Piqué derrubou Cardozo em plena área espanhola. Grande penalidade que o próprio Cardozo se encarregaria de desperdiçar, para no minuto seguinte ser a Espanha a dispor de idêntica oportunidade graças a uma queda de Villa na sequência de contacto com Alcaraz. Xabi Alonso converteu, mas o árbitro mandou repetir por violação da área. À segunda tentativa o médio mudou a direcção do remate, permitindo a defesa incompleta a Villar e a recarga a Fábregas, que foi impedido de rematar pelo guardião e capitão paraguaio, num penalty que ficou por assinalar...
A entrada do rápido e acutilante Pedro Rodriguez dotou (finalmente!) a Espanha de enorme capacidade pelos flancos, o que lhe permitiu ultrapassar a 7 minutos do final a forte resistência guarani, num lance caricato, em que a bola bateu por três vezes nos postes da baliza paraguaia antes de entrar.
Vitória justa da melhor equipa, mas tremendamente valorizada e dificultada pelo Paraguai, num jogo marcado por arbitragem controversa, repleta de decisões equivocadas.

O herói: Villa
Em perfeito estado de graça o novo reforço do Barcelona. Mais uma vez voltou a ser decisivo num golo pleno de oportunidade, passando a ideia que a bola é sua amiga e tende a ir ao seu encontro.
Não obstante o facto de alinhar demasiado descaído sobre a faixa esquerda, algo distante do seu habitat natural, mantém a aura de goleador e talismã da fúria roja, confirmando-se como uma das grandes figuras da competição, ao invés de Fernando Torres, que soma exibições apagadas e terrivelmente cinzentas.

O vilão: Batres
Acertou ao assinalar grande penalidade cometida por Piqué sobre Cardozo e ao ordenar a repetição do penalty de Xabi Alonso devido a violação da área paraguaia.
Pelo contrário, errou ao anular um golo legal a Valdez por fora-de-jogo inexistente, deveria ter mandado repetir a grande penalidade de Cardozo porque vários jogadores espanhóis invadiram a área e não marcou um penalty claríssimo sobre Fábregas.
Benefício da dúvida no lance da grande penalidade a favor de Espanha. Existe contacto entre Alcaraz e Villa, embora a queda do avançado pareça bastante forçada. Aceita-se a decisão, embora no cômputo geral tenham sido demasiadas decisões erradas que voltam a ensombrar a qualidade das arbitragens neste Mundial.