segunda-feira, janeiro 25, 2010

Decepção marfinense


Foi com naturais expectativas sobre o desempenho da Costa do Marfim, que assisti ao seu jogo dos quartos-de-final da CAN defronte da Argélia. Afinal, estava em campo aquela que é considerada por muitos como a melhor selecção africana da actualidade e futura adversária (coveira para outros tantos...) de Portugal na fase final do Campeonato do Mundo.

Tirando alguns pormenores ofensivos de Gervinho (enorme talento) e Kalou, sem esquecer o fantástico golo de Keita, a exibição dos elefantes foi uma profunda decepção!

A grande figura, Drogba, teve uma actuação para esquecer, falhando uma ou duas oportunidades verdadeiramente incríveis. Os marfinenses foram uma equipa sobranceira, sem ritmo nem pernas, mal orientados e com uma fragilidade defensiva arrepiante. Em bom futebolês há que dizer que a defesa foi um autêntico passador, oferecendo de bandeja a qualificação à selecção argelina.

O mais caricato foi ver a Costa do Marfim chegar à vantagem (2-1) ao minuto 89 e muita gente - incluindo eu próprio - deve ter pensado que o assunto estava arrumado. A bola foi ao círculo central e os argelinos deram tudo na busca de um golo salvador, que se sabia altamente improvável em condições normais. Achei intrigante então a postura dos três ou quatro jogadores marfinenses mais adiantados, que não se dignificaram a exercer qualquer espécie de pressão sobre os jogadores adversários, permanecendo especados, impávidos e serenos, sobre a linha de meio-campo.

A Argélia acreditou no milagre e não só chegou à igualdade dois minutos para lá da hora, como abriu o prolongamento a marcar de novo, beneficiando de tremendas facilidades concedidas pela defensiva contrária, despachando uma selecção apelidada de favorita, mas pelos vistos, só no papel! Queiroz e Dunga podem dormir bem mais descansados.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

A (des)ilusão Obama


Confesso que na altura tinha esperança que o novo líder norte-americano conseguisse colocar em prática algumas das mudanças que tanto preconizou durante a campanha. Não poderia estar mais errado! Passados apenas 12 meses e, exceptuando a propalada reforma na saúde, constato que as promessas de Obama eram tão e somente profundas balelas. Venha quem vier os EUA não mudam a sua essência imperialista e militarista. Curiosamente ou talvez não, o belicismo norte-americano cresceu durante o último ano e, ironia das ironias, foi reconhecido pelo comité Nobel com a atribuição do prémio Nobel da Paz a Obama num singelo "apoio ao que ele está a tentar fazer". Eis o que ele tem realmente feito:

- continuou com a prisão de Guantánamo em pleno funcionamento apesar da promessa do seu imediato encerramento.

- manteve o bloqueio a Cuba tão válido e criminoso como anteriormente.

- enviou mais 40 mil militares para o Afeganistão.

- continuou a ocupar o Iraque e a sugar o seu petróleo.

- instalou bases militares na Colômbia com o objectivo de desencadear golpes militares contra os países que se libertaram do jugo imperialista, nomeadamente a Venezuela, a Bolívia, a Nicarágua e o Equador.

- assegurou que os EUA - única nação que lançou bombas atómicas sobre populações - decidam quem pode ou não pode ter armas atómicas.

- continuou com o apoio tácito ao governo fascista e xenófobo de Israel.

- pactuou com o golpe de estado nas Honduras que depôs Zelaya - próximo de Chávez - e colocou no poder um governo fantoche às mãos dos interesses norte-americanos.

- aproveitou a tragédia no Haiti para enviar 11 mil militares para o país, não para ajudar nas operações humanitárias, mas sim para tomarem o controlo militar do país.

Não é difícil de concluir que Obama tem feito exactamente o mesmo que todos os seus antecessores na Casa Branca fizeram: tentar impor o imperialismo norte-americano como dono incontestado e senhor absoluto do mundo.

E mesmo quando o assunto é política doméstica e combate à crise verifica-se que o neo-liberalismo continua a ditar leis já que enquanto grandes grupos financeiros anunciam a distribuição de milhares de milhões de dólares em bónus aos accionistas e quadros executivos, milhões de trabalhadores norte-americanos são despedidos, engrossando o crescente número de pobres no país.
Só em 2009 foram despedidos 4,2 milhões de trabalhadores nos EUA. As estimativas oficiais apontam para cerca de 10% de desempregados, mas na realidade o valor rondará os 17% explicando-se assim em parte a tremenda queda de popularidade de Obama. O desafio passa agora pela criação de emprego e para a recuperação da economia, estando previsto um aumento de impostos no Orçamento para 2010 o que deverá fazer com que o presidente norte-americano fique ainda mais impopular, não obstante os discursos bonitos e as palavras criteriosamente elaboradas.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Ajuda a missão da AMI no Haiti


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segunda-feira, janeiro 11, 2010

Um nevão a sério!


É certo e sabido que a Covilhã é conhecida como a cidade-neve, mas não me recordo de ver tantos cristais de gelo por cá...



P.S. a neve era de tal ordem que a UBI esteve encerrada durante o dia de hoje...

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Fracturante... ou talvez não!


Depois de um longo processo, com vários episódios rocambolescos, o parlamento português aprovou finalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, embora sem o reconhecimento do direito à adopção.

Um passo de cada vez. Está dado o primeiro que representa o fim de uma discriminação latente na constituição, marca o avanço social e progressista de Portugal, ao tornar-se no nono país mundial a reconhecer o casamento homossexual, não obstante a tenaz e feroz resistência da direita conservadora, que tentou por todos os meios - sempre com o apoio tácito da retrógrada igreja católica - implodir o avanço civilizacional.

Inicialmente, grunhiam que o assunto não era de particular interesse para o país. Depois, podia avançar desde que não se chamasse casamento! Poderia ter outro nome qualquer, união civil, união de facto, tanto fazia. Casamento é que nem pensar! Já sobre a linha de meta, foram recolhidas quase 100 mil assinaturas com o objectivo de convocar um referendo! Absurdo! Como é possível equacionar-se a realização de uma consulta popular sobre uma questão que é tão somente da consciência e liberdade individual de cada um? Eu tenho alguma coisa a ver se o vizinho da frente quer casar com o homem do talho? Ou se a vizinha do lado quer juntar os trapinhos com a miúda do café?
Notável a evolução de um assunto que, para a direita, não há muito tempo, era de relativa importância, não está nada mal não senhor... Provavelmente, até teriam razão no início. Aqui ao lado, em Espanha, após a entrada em vigor do casamento homossexual em 2005, apenas 1% dos casamentos que se realizaram desde então foi entre pessoas do mesmo sexo, ou seja, estamos perante uma imensa minoria.

Resta agora esperar pela aprovação do projecto-lei por parte do presidente da república. Esperemos bem que não faça uma das suas e exerça o direito de veto. Ou que o diploma seja chumbado pelo tribunal constitucional. Afinal, calha bem a muito boa gente que se continue a falar de uma questão dita fracturante. É impossível esquecer a maneira deplorável como PS e BE lutaram sobre quem é que apresentaria o projecto-lei. Sobre a direita estamos conversados. Sobra o PCP. Fez o seu papel. Aprovou a lei e continua na sua luta fracturante. No terreno, nas fábricas, nos campos, nos sindicatos, sempre pelos direitos dos trabalhadores. Isso é o que distingue verdadeiramente o Partido Comunista Português dos outros. Não alinha em fait-divers, nem em temas catalogados de mediáticos para encher chouriços nas tv's e nos jornais. Os itens seguintes, esses sim, são realmente fracturantes:

- o número recorde de desempregados em Portugal, já bem para cima de meio milhão.
- os mais de dois milhões de portugueses abaixo do limiar da pobreza, muitos na miséria, outros tantos passando fome.
- os muitos milhares de portugueses que recebem o salário mínimo ou pouco mais que isso.
- os milhares de trabalhadores com salários em atraso.
- os milhares de recém-licenciados a recibos verdes...

...a lista seria extensa com toda a certeza. Para quando empenhamento visível na resolução destas questões realmente fracturantes para uma imensa maioria de portugueses?

domingo, janeiro 03, 2010

Fuga de Peniche - Rumo à Vitória 50 anos depois

Comemora-se hoje o 50º aniversário de um dos mais relevantes episódios da história da resistência antifascista: a fuga de Peniche, protagonizada por um conjunto de destacados quadros e dirigentes comunistas, entre os quais o secretário-geral do PCP, Álvaro Cunhal. A fuga de Peniche teve o condão de abalar a imagem de um regime aparentemente inamovível nos seus métodos repressivos e securitários.

O Forte de Peniche – com toda a certeza um dos mais sinistros cárceres do fascismo – foi um espelho do regime fascista que durante quase meio século explorou, oprimiu e reprimiu Portugal e os portugueses.
Por aqui passaram a esmagadora maioria dos presos condenados a longas penas de prisão – que eram, também na sua imensa maioria, militantes comunistas. Por tudo isso, é necessário lembrar, que nesse Forte de Peniche, nesses anos terríveis do fascismo, milhares de militantes comunistas e outros democratas sofreram as consequências de um regime prisional desumano e brutal.

A fuga de Peniche – para além de ter sido uma das mais espectaculares evasões de toda a história do fascismo – assumiu, pelas características de que se revestiu e pelas consequências que viria a ter na vida do PCP e na vida política nacional, uma importância e um significado marcantes.
Uma vitória conseguida pela superior organização prisional partidária em estreita articulação com a organização do Partido no exterior, que recuperou para a luta Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Jaime Serra, Carlos Costa, Francisco Miguel, Pedro Soares, Rogério de Carvalho, Guilherme Carvalho, José Carlos e Francisco Martins Rodrigues.

Mas foi muito mais do que isso, foi o abrir de uma fenda na muralha do regime fascista. Na sequência da fuga ocorreram uma sucessão de acontecimentos que viriam a revelar-se determinantes no reforço do PCP e, consequentemente, na dinamização da luta que tinha como objectivo principal o derrube do fascismo.