quarta-feira, abril 28, 2010

Special 'retranca' One


Esteja onde estiver Helenio Herrera - inventor do catenaccio e bi-campeão europeu pelo Inter na década de 60 - certamente que estará deliciado e profundamente orgulhoso com o futebol (?) apresentado pelo seu mais fiel discípulo, José Mourinho. O que aconteceu hoje em Camp Nou foi a personificação daquilo que é a essência do anti-futebol, retranca pura e dura!

Podem alegar os bajuladores e lambe-botas de Mourinho que o Inter jogou cerca de uma hora com dez elementos, mas a verdade é que o estilo ultra-defensivo de jogo praticado pelos nerazzurri não sofreu a mínima alteração com a expulsão de Thiago Motta. Passou de um 4*5*1, para um 4*5*0 com o central blaugrana Piqué a ficar completamente sozinho no círculo central. O guardião Valdés foi um mero espectador da partida.

Arrisco-me a afirmar que muitos jogadores do Inter não passaram sequer da linha de meio-campo durante todo o encontro e o único remate que me recordo é um de Chivu a abrir a segunda parte, completamente inócuo. Feio, muito feio, não me ocorrem outras palavras para classificar a actuação da formação nerazzurra.

Sinceramente, gostava de ver amanhã os comentadores da treta defenderem o seu querido Mourinho, com as tiradas banais do pragmatismo, do resultado e blá blá blá. Depois, lembrar-lhes-ia a tão criticada Grécia de há 6 anos atrás. Nem nos piores sonhos os comandados de Reaghel actuaram de forma tão desprezível como hoje o fizeram os de Mourinho, o treinador mais defensivo e com a maior estrelinha da sorte da actualidade.

A passagem do Inter à final da Champions representa o triunfo da retranca perante o futebol espectáculo. Pode-se acusar Guardiola de ser um eterno romântico, esteve a ganhar em San Siro e nem por sombras pensou em recuar para segurar a preciosa vantagem. Manteve o mesmo estilo atractivo e ofensivo de sempre, algo que lhe saiu imensamente caro, já que sofreu três golos de contra-ataque, que se revelariam fatais no desfecho final da eliminatória.

Pep armou bem a equipa para o encontro de hoje. Colocou Milito na esquerda para segurar Eto'o e Maicon, recuando Touré para o lado de Piqué, de forma a ter mais um organizador de jogo do que propriamente um central. Com a expulsão de Motta, exigia-se de imediato mais ousadia e esperou até ao intervalo para lançar o acutilante Maxwell na esquerda. Pior ainda foram as opções no segundo tempo. É certo que Ibrahimovic está uma sombra do portento que já foi, mas nunca o devia ter retirado de jogo. Por mais que não fosse só a sua estampa física impõe respeito e poderia abrir espaços para colegas vindo de trás. Bojan e Jeffrén ainda são demasiado verdes para estas andanças, tal como se comprovou no incrível falhanço do jovem avançado a pouco mais de 10 minutos do fim. O experiente e outrora letal Henry ficou no banco e parece iminente o divórcio com Guardiola.

Apesar das duvidosas opções tácticas tomadas por Guardiola, o Barça esteve a um passo da final, já que após um brilhante golo de Piqué - a mostrar a Ibrahimovic como se faz - acabou mesmo por marcar o segundo tento, injustamente invalidado por bola na mão em Touré e não mão na bola como o árbitro belga erradamente ajuizou. Depois do empurrão dado por Olarápio, perdão Olegário, Benquerença na partida da primeira mão, nada como outra ajuda para o angelical Moratti, o tipo que afinal também estava (e bem) envolvido no Calciocaos...

Para terminar em beleza, assinala-se a natureza provocadora de Mourinho. Não se contentou em levar para o banco de suplentes Luís Figo, esse mesmo o pesetero e o tipo que cobrou ao Estado português o pequeno-almoço mais caro da história do país, como ainda festejou de forma completamente inqualificável a qualificação, mal o árbitro soprou para o final do encontro. Só foi pena Valdés não lhe ter acertado o passo...

Adeus ao 'Cantinho do Morais'


Faleceu hoje, aos 75 anos de idade, João Morais, antigo jogador do Sporting e autor do golo que permitiu ao emblema leonino conquistar a única competição europeia da sua história, a Taça das Taças, em Maio de 1964 frente ao MTK de Budapeste, através de um pontapé de canto directo!

Depois de afastar Man Utd e Ol. Lyon, os leões chegaram à final no Heysel em Bruxelas onde empataram a três bolas com os magiares. Dois dias depois, em Antuérpia, disputou-se a finalíssima, decidida com o golo solitário e singular de Morais. Curiosamente, na altura, Morais ainda não era titular do Sporting, apenas alinhando devido à fractura numa perna que Hilário - outro dos míticos nomes leoninos - sofreu três dias antes da final.

Morais ficou ainda célebre pela participação no Mundial'66, acusado injustamente pelos brasileiros como causador da lesão de Pelé, durante o jogo que os magriços venceram por 3-1, afastando a selecção canarinha de qualquer hipótese de revalidação do bi-campeonato.

Numa altura em que se assiste de forma aparentemente imparável à belenensização do Sporting, parte uma das suas lendas. A seguir o vídeo com uma excelente reportagem da RTP, efectuada há alguns anos e hoje novamente transmitida:


domingo, abril 25, 2010

Para quando o verdadeiro 25 de Abril?


Não, não foi um qualquer D. Sebastião montado num cavalo branco a romper o nevoeiro matinal que libertou os portugueses das mordaças da ditadura fascista. Foram sim, valentes capitães que, numa madrugada primaveril de 1974, se lançaram à aventura, apoiados na sua coragem e bravura, para colocar ponto final num regime que, durante longos e terríveis 48 anos promoveu a opressão, a miséria, a ignorância, a injustiça e a guerra ao povo português.

O Estado Novo – autoritário, nacionalista, conservador, corporativista e de inspiração fascista - há muito obsoleto, caiu de podre, não esboçando grande resistência aos avanços da Liberdade e da ânsia pelo fim imediato de uma guerra colonial demente e sem sentido que ceifou milhares de vidas inocentes, espalhando o caos e a destruição nas colónias.

Os presos políticos foram libertados, a censura foi extinta, a liberdade de expressão garantida e a polícia política desmantelada tal como todos os baluartes do Estado Novo. Subsequentemente foi concedida a independência às colónias africanas e alcançaram-se grandes conquistas sociais: fixação do salário mínimo, atribuição do subsídio de férias (13º mês) e subsídio de Natal. Nacionalizaram-se os principais meios de produção privados e fomentou-se a Reforma Agrária no Alentejo, num claro objectivo de rumo ao Socialismo, devidamente legitimado pela futura Constituição de 1976.

No entanto, quase cinco décadas de fascismo deixaram remanescentes, em especial no Norte do país, conservador e de forte inspiração católica, conotado como reaccionário relativamente ao Sul revolucionário. O confronto parecia iminente e a guerra civil esteve por um fio no quente mês de Novembro de 1975, surgindo então uma terceira via, a que se pode considerar como vencedora, o Grupo dos Nove, moderado comparativamente às posições extremadas e defensor dum projecto socialista alternativo baseado numa democracia política, pluralista, nas liberdades, direitos e garantias fundamentais.

Por mais incrível que hoje possa parecer, o PS e até o próprio PSD afirmavam-se defensores das doutrinas socialistas, redigindo e aprovando, em conjunto com o PCP, a Constituição da III República Portuguesa, onde ficaram devidamente consagrados o forte papel do Estado na Economia do país, o direito universal e gratuito à Saúde e Educação, o pluralismo partidário, a liberdade religiosa e a laicidade do Estado, o poder autárquico, a descentralização das competências do Estado, entre outras medidas de forte carácter progressista.

No papel, a Constituição Portuguesa é das mais avançadas a nível mundial e tem tudo para promover a prosperidade, a equidade de oportunidades e a justiça social aos seus cidadãos. Ao fim e a cabo foram estas as grandes esperanças depositadas na Revolução dos Cravos.

Passados 36 anos, concluo que o grande problema recai sobre nós, portugueses em geral, que temos elegido ininterruptamente governantes com o estranho poder de desvirtuarem e aniquilarem (quase) todas as expectativas e conquistas de Abril.

Prometeram-nos mundos e fundos com a entrada na União Europeia e na plena economia de mercado. Durante anos e anos jorraram milhões vindos de Bruxelas, muitos deles desperdiçados em quilómetros infinitos e inúteis de auto-estradas. Outros tantos foram esbanjados em supostos subsídios para a Agricultura, sendo antes aplicados em vivendas, jeep’s e piscinas... Investimento na Saúde e na Educação – pilares nucleares da sociedade de todo e qualquer país – pouco ou nada foi feito, para não falar em Ciência ou Cultura. Afinal, a velha máxima “quanto mais inculto é um povo, mais facilmente é enganado” continua a ser inteiramente válida.

Ambições pessoais desmedidas da elite do país, pântanos, fugas para Bruxelas, privatizações sem nexo, corrupção e promiscuidade a rodos entre a classe governativa e empresarial, tachos para os boys, crescente desigualdade social, desemprego galopante, pobreza, perda de direitos laborais, endividamento crítico da classe média, défice excessivo do país, prisão efectiva para quem rouba uma carteira no metro e impunidade para com o crime milionário de colarinho branco, lucros e prémios obscenos para algumas empresas e gestores (em particular no sector da Banca, das Energias e dos monopólios), espectro da bancarrota a pairar num horizonte não muito longínquo. Num traço muito geral e bastante sintetizado é este o retrato de Portugal desde 1976 até hoje.

Conclui-se assim que as esperanças depositadas pelo povo português no 25 de Abril estão muito longe de estar alcançadas! As ambições e expectativas consagradas na Constituição foram sendo desvirtuadas e adulteradas de forma contínua pelos sucessivos governos da República. Batemos no fundo, está visto e revisto que o neo-liberalismo e o capitalismo selvagem não são solução. A construção da sociedade socialista em Portugal falhou rotundamente e não foi por culpa do Socialismo.

quinta-feira, abril 22, 2010

140º aniversário de Lénine



"Os capitalistas sempre chamaram liberdade á liberdade de obter lucros para os ricos, à liberdade dos operários morrerem de fome." - Vladímir Ilitch Lénine, intelectual, filósofo, economista, político, publicista, orador, líder do proletariado mundial, criador do partido bolchevique, organizador da primeira revolução socialista vitoriosa e fundador do primeiro Estado socialista – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

segunda-feira, abril 12, 2010

Um salto atrás... *


Como fã incondicional de Yelena Isinbayeva não poderia deixar passar em claro o seu anúncio de retirada temporária da alta competição. A atleta russa de 27 anos, bi-campeã olímpica e detentora de 27 recordes mundiais no Salto à Vara, pretende efectuar uma pausa na carreira ao mais alto nível, decisão tomada muito provavelmente como consequência das participações menos conseguidas no Mundial de Berlim disputado no Verão passado e no recente Mundial de Pista Coberta em Doha.

Os falhanços nas referidas competições devem ser encarados apenas e só como fracassos normais, de momentos menos bons, para quem dominou de forma tão intensa e completamente à vontade o panorama mundial da modalidade nos últimos anos. O contínuo e enorme stress competitivo a que foi sujeita pode ter originado um forte desgaste físico e emocional, fenómeno extremamente comum no panorama desportivo de alta competição.

Posto isto, acredito que o descanso só fará bem a Yelena e que ela regressará mais forte que nunca, pronta a continuar o seu desafio às leis da gravidade. Novos recordes mundiais e o título olímpico em Londres são objectivos realistas e perfeitamente concretizáveis!


* ...para em seguida dar dois à frente!

domingo, abril 04, 2010

Não ao PEC!


O português, na sua generalidade, adora siglas, sejam elas de que tipo for. A última sigla a entrar no vocabulário comum é o PEC. O som é simpático, tem uma pronúncia agradável, mas as medidas lá propostas são miseráveis. Nada de preocupante para o Governo, afinal a malta fala e critica sem fazer grande ideia do que está em causa. Dá muito trabalho ler e analisar as propostas em questão. E assim continuam eles, com as suas políticas desastrosas - já lá vão 35 anos do mesmo - perante um povo amorfo e inócuo, que come e cala.

Sócrates prometeu não aumentar o IVA e cumpriu. Sócrates toma os portugueses por parvos e a verdade é que se vai pagar mais IRS, por via da dedução dos benefícios fiscais e das deduções à colecta. Esta medida afectará todos os que ganhem mais de 517 euros por mês, escapando-se apenas aqueles que recebem na ordem do salário mínimo, já de si uma verdadeira miséria.
Logo, lá estarão os do costume - classe média e média-baixa - a pagar a crise. Contrapõem os defensores do PEC argumentando da introdução de um novo escalão de IRS: 45% para quem declare rendimentos anuais superiores a 150 mil euros. O negrito na palavra declare foi propositado. Quem estiver neste escalão só mesmo se não puder é que vai declarar tal quantia! E sabe-se bem como essa dita elite é artista na fraude e evasão fiscal, ou seja, esta medida é apenas para inglês ver! Tal e qual como a tributação de 20% das mais valias obtidas em bolsa! Trocando por miúdos, esta proposta é aceitável e justa, o problema é que ainda não está prevista data para o seu início...
Quanto à função pública, tantas vezes conotada como privilegiada, terá os aumentos salariais abaixo da inflação até 2013. Sobre a Banca nem valerá muito a pena comentar. Lá continua no seu pedestal, intocável, gerando muitos milhões de euros de lucros anuais, pagando apenas cerca de 13% de IRC, contra os 27% que pagam as empresas em geral. Quando as coisas correrem para o torto, leia-se tipos como Oliveira e Costa ou João Rendeiro meterem ao bolso, lá estará o Estado a amparar os golpes, nacionalizando com o dinheiro de todos nós...

Contrapondo, temos a privatização dos CTT e da TAP e das participações do Estado na REN, EDP e Galp em vista no PEC, negócios ruinosos para o país, que serão apenas e somente balões de oxigénio, vulgos tapa-buracos para os cofres do Estado. Quando o dinheiro recebido pelas privatizações acabar, lá continuarão as citadas empresas a darem lucro, só que desta vez a encherem os bolsos dos capitalistas (oportunistas) do costume. Convém ainda realçar que o Governo planeia alienar dois monopólios naturais como são a distribuição da correspondência e a electricidade, fundamentais na manutenção da coesão territorial.
Os grandes grupos económicos portugueses não se preocupam em criar e inovar, mas sim em capturar ao Estado monopólios que lhes garantam a obtenção de lucros sem concorrência e onde tudo já esteja realmente feito. Prossegue assim o desmantelamento do Estado Social com a conivência tácita dos liberais da União Europeia. Salta à vista imediatamente qual é o verdadeiro objectivo destas privatizações: passar para as mãos dos amigalhaços de PS, PSD e CDS as empresas que dão lucros fabulosos, garantindo belos tachos após deixarem a política activa. Afinal, é assim que tem funcionado o nosso país desde finais de 1975, até quando o continuaremos a permitir?

O PEC não é uma inevitabilidade, existem alternativas propostas pela verdadeira Esquerda Socialista. A CGTP-IN propõe acabar com o outsourcing ou limitá-lo bastante, argumentando que no ano passado foram gastos mais de mil milhões de euros a encomendar serviços aos privados, havendo, no Estado pessoas capazes para os assegurar. O congelamento dos salários da função pública não promove a melhoria do poder de compra, tão necessária para dar ânimo à economia.
Outras medidas necessárias passariam pela identificação dos responsáveis pelas derrapagens nas obras públicas (fazendo-os pagar por isso), pelo assalto às offshores e pelo combate à fraude e evasão fiscais. Coisas tão simples e que não aparecem no PEC, porque será?

Para ler na íntegra a apreciação e propostas da CTGP-IN ao PEC clicar aqui.