sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Não, não são todos iguais

O analfabetismo político que varre grande parte da população portuguesa leva a que frases do género "são todos iguais" e "querem é servir-se da política para subir na vida" estejam fortemente implantadas na cultura popular. Para além das naturais diferenças ideológicas e programáticas existentes entre os vários partidos, urge desmistificar e distinguir dois aspectos essenciais relacionados com a vertente financeira dos mesmos.

1. Todos os militantes do PCP eleitos para cargos públicos, sejam eles autarcas ou deputados, auferem exactamente aquilo que receberiam caso desempenhassem a sua actividade profissional anterior. Como exemplo refiro que o secretário-geral, Jerónimo de Sousa, operário metalúrgico qualificado, receberia 800 euros mensais, caso exercesse a sua profissão. Como deputado eleito pelo círculo eleitoral de Lisboa, Jerónimo de Sousa recebe igualmente 800 euros mensais. Este compromisso de honra é assumido pelos eleitos do Partido Comunista, depreendendo-se facilmente que estão na Política por convicção e não para se encherem ou à procura de tacho. Tomara que os milhares de boys laranja e rosa, que desgraçam os depauperados cofres do Estado, pudessem fazer o mesmo...

O PCP tentou ao longo dos anos e das legislaturas, na Assembleia da República, sugerir este modelo aos restantes partidos com assento parlamentar. Penso que não seja necessário indicar qual a posição de PS, PSD e CDS sobre a matéria...

2. Uma das principais, senão mesmo a principal fonte de rendimento dos partidos é a subvenção estatal mediante os resultados eleitorais obtidos. Por vezes, os resultados alcançados nas urnas estão abaixo das expectativas e a subvenção recebida é manifestamente inferior aos gastos da campanha. O recente caso de Manuel Alegre nas Presidenciais, que ficou a arder com 300 mil euros, é sintomático disso mesmo.

Existem sempre outras formas menos explícitas de financiamento. Recordo-me da campanha do PSD para as Legislativas de 2005 paga pela Somague. E o que dizer da rival Mota-Engil que tem ganho praticamente todas as obras públicas desde que Sócrates é primeiro-ministro. Certamente que o facto de Jorge Coelho - antigo ministro de Guterres e um dos tipos mais desprezíveis que já passaram pela Política em Portugal - ser o presidente da empresa é pura coincidência... Ou então temos também o caso Portucale, o abate de sobreiros, que teve como consequência o depósito de 1 milhão de euros na conta bancária do CDS. A matriz democrata-cristã do partido poderá ter estado na origem de tamanho milagre...

Pelo contrário, o PCP aposta na força do colectivo, em que milhares de militantes e simpatizantes constroem voluntariamente as infra-estruturas para a realização da Festa do Avante!, o maior evento cultural que se realiza em Portugal desde 1975. Praticando preços acessíveis - quer na entrada do recinto, quer na restauração - o Partido obtém mesmo assim as principais receitas para o seu financiamento, resistindo a todos os ataques que tem sido alvo por parte das outras forças partidárias, nomeadamente através da recente alteração à Lei de Financiamento dos Partidos e das Campanhas, que impõe um tecto máximo para donativos em numerário. Na próxima Festa do Avante! não se admirem de ver malta a pagar cafés, cervejas e bifanas com cheques ou em transferências bancárias...

Citações de Saramago (Parte VIII)


"A democracia ocupou o lugar de Deus. (...) O poder real não está nos palácios do governos: encontra-se, sim, nos conselhos de administração das multinacionais que decidem a nossa vida."

JN, 27 de Março de 2004



quarta-feira, fevereiro 09, 2011

A montanha pariu um rato


Por incrível que pareça, ainda não tinha começado o Portugal X Argentina e já estava literalmente farto do jogo! A verborreia com que a generalidade da comunicação social reduziu o desafio entre duas selecções cotadas a um duelo particular entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi é do mais obtuso e redutor que possa existir, espicaçando o mais elementar senso crítico de quem tenha dois dedos de testa.

Quanto ao futebol propriamente dito, assistiu-se a um encontro interessante, bem disputado na maior parte do tempo, mas que nunca conseguiu superar o estigma de amigável. Com esquemas tácticos semelhantes e bastante encaixados um no outro, a diferença no primeiro quarto de hora residiu na capacidade de improviso e no virtuosismo do pé esquerdo de Messi, que inventou uma assistência magnífica para o golo de Di Maria. Portugal reagiu bem e, depois de um período de crescimento e maior envolvência do seu jogo, chegou à justificada igualdade por intermédio de Ronaldo, aproveitando da melhor forma um ressalto na grande área contrária.

Longe de revelar a capacidade de pressing alta e efectiva demonstrada no desafio contra a Espanha, Portugal sofreu forte assédio argentino nos instantes finais da primeira parte. O intervalo fez bem à equipa lusa, que esteve perto de marcar em duas ocasiões. Hugo Almeida protagonista, primeiro ao acertar na trave e, depois, a falhar escandalosamente de baliza aberta!

O minuto 60 marca claramente o ritmo e tendência do jogo. Paulo Bento troca de trio ofensivo e, com Nani e Ronaldo fora, o futebol ofensivo português praticamente terminou. Moutinho e Martins não estavam particularmente inspirados, aos quais se juntaram Quaresma e Danny, terrivelmente apagados e inconsequentes. Acredito que Varela é tremendamente superior ao madeirense, não percebi a sua ausência da convocatória.

Apesar do domínio argentino na última meia hora, obrigando Rui Patrício a duas boas intervenções e atirando uma bola à barra, parecia que o jogo estava destinado a uma justificada igualdade. Mas Coentrão precipitou-se ao minuto 90, entrando de forma desastrosa sobre Martínez, cometendo grande penalidade, impecavelmente convertida por Messi.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Está de volta a música de intervenção!

Deolinda "Parva Que Sou"

Sou da geração sem remuneração e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar, já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração casinha dos pais, se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração vou queixar-me pra quê? Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração eu já não posso mais que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar.

Mappa

Mappa de Alighiero e Boetti, 1978

O artista italiano Alighiero e Boetti criou, em conjunto com artesãos afegãos e paquistaneses, mapas gigantes do mundo, onde surgem definidos os limites políticos de cada país, bordados com a imagem da respectiva bandeira nacional.