quinta-feira, novembro 24, 2011

Contas à Guterres

O inefável patrão da CIP, António Saraiva, quantificou ontem à noite na RTP os custos da Greve Geral ao país nuns estratosféricos 670 milhões de euros (sensivelmente o mesmo valor que se irão pagar só de comissões - fora os juros - aos agiotas da Troika). 
Depois de avançar com uns ridículos 3,6 % de adesão à paralisação na Função Pública, o Governo aumentou a parada para uns espectaculares 10,5 %. 
Ora, se o valor do PIB português em 2010 foi de 167,5 mil milhões de euros só posso concluir que estamos perante umas belas contas à Guterres.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Ilusão desmontada

Resultados Finais das Eleições Legislativas em Espanha (El País)

Os media dominantes rejubilam: "Espanha vira à Direita", "Estrondosa maioria absoluta do PP" e "A Esquerda sofre a maior derrota de sempre" são algumas das tiradas utilizadas para iludir os menos informados. Vamos lá então desmontar as frases armadilhadas.

A Direita continua a governar em Espanha. Não existe qualquer mudança de fundo na linha de orientação que será seguida pelo novo executivo. Mais subserviência para com os mercados, mais austeridade e desemprego, mais conservadorismo e mais neoliberalismo. Apenas isso. Até os todo-poderosos mercados se fartarem do medíocre Rajoy e imporem um tecnocrata qualquer, como já fizeram na Grécia e em Itália. E a receita para o desastre continuará.

Tivesse Espanha um sistema eleitoral realmente proporcional e nunca o PP alcançaria maioria absoluta com cerca de 45 % dos votos. O incrível número de 52 círculos eleitorais beneficia largamente os dois partidos da alternância. A utilização do patusco método d'Hondt agrava ainda mais a disparidade existente entre o número de votos e o número de mandatos alcançados. Exemplo gritante: o PSOE e a IU. Com cerca de 1/4 dos votos relativamente aos socialistas, a coligação entre comunistas e várias forças progressistas consegue apenas 1/10 dos deputados.

Para além da vertiginosa subida da Izquierda Unida - passou de 2 para 11 mandatos - a esquerda independentista basca (AMAIUR), não obstante a feroz perseguição imposta pelo imperialismo castelhano, passou a ser a maior força política no País Basco e em Navarra, alcançando 7 deputados. Sem esquecer a esquerda republicana catalã (ESQUERRA), que mantém os 3 deputados no Congresso.

Pode-se concluir assim que os espanhóis saíram do caldeirão, mas caíram na fogueira. No entanto, o decréscimo acentuado da bipolarização (passou de 83 para 73 %) e o avanço significativo alcançado pela Esquerda são sinónimos de esperança e confiança para o futuro.

quarta-feira, novembro 16, 2011

O país está entregue aos bichos

Sou ouvinte assíduo da Antena 1 e da Antena 3 desde há pelo menos uma década quando cortei definitivamente com a tralha descartável vinda das emissoras afectas à Igreja Católica e à Media Capital. Música de consumo rápido e obsoleto, informação enviesada e distorcida, publicidade às carradas. Eis a definição de lixo radiofónico que suponho perpetuar-se nestas estações com a conivência do público mais distraído e iludido com o rótulo modernista e glamouroso que lhes é impingido. 

Escuto a Antena 1 e a Antena 3 regularmente porque lhes reconheço muito mérito na aplicação da definição de serviço público. Informação de qualidade e ampla divulgação da música portuguesa são duas das principais características das estações em questão. Por norma vario entre elas conforme a altura do dia: ao início da manhã e à noite, Antena 1; meio da manhã e tarde, Antena 3. Posto isto, habituei-me a ouvir Rui Estêvão na Antena 3 das 13h às 16h. Excelente programa pelo sinal. A mistura perfeita entre música moderna portuguesa, rock alternativo e tiradas quase sempre certeiras por parte do locutor, reveladoras de enorme sentido de humor e cultura da sua parte. 

Não estranhei por aí além a sua ausência da emissão nos últimos dias. Provavelmente estaria de férias, pensei. Seria o mais natural. Infelizmente, estava enganado. Soube há pouco desta petição da qual Rui Estêvão é o primeiro subscritor:


Não é preciso ser muito inteligente para concluir que a apresentação desta petição tenha originado o afastamento de Rui Estêvão da Antena 3. Desta vez foi Peixeiro, perdão Pacheco Pereira, também conhecido como a "loira do regime", o agente provocador, servindo-se do tempo de antena que lhe é dado pela estação do Balsemão para verborrear a seu belo prazer. Isto é, nem mais nem menos, do que o velho truque realizado em muitas das empresas outrora públicas: inicialmente, arruina-se, desprestigia-se, afunda-se; a seguir, hipocritamente, diz-se que, atendendo à situação alegadamente insustentável a que se chegou, não há outra solução se não privatizar. Já assisti muita vez a este filme. Rui Estêvão foi apenas a primeira vítima da caça às bruxas, leia-se funcionários da RTP/RDP/Lusa que ousarem protestar contra a bicharada que tomou de assalto os destinos do país.

terça-feira, novembro 15, 2011

A carta que nunca te escrevi

Deve estar a fazer 10 anos. Estava um dia frio e triste, tipicamente de Outono. Nada melhor para o alegrar do que oferecer-te um ramo de rosas vermelhas. 24. Nunca soube porque escolhi esse número, acho que foi o primeiro em que pensei. Pareceu-me bem. Redondo. Como eu era ingénuo e apaixonado. Pensei que iríamos viver felizes para sempre depois desse momento especial. Foi-o de facto, pelo menos por breves instantes. E certamente inesquecível.
Cheguei primeiro ao nosso sítio. O nosso banco, no nosso jardim. Tremia ligeiramente e não era apenas do frio. Estava nervoso. Mal podia esperar para que chegasses. E passado pouco tempo lá surgiste ao fundo. Não disfarcei o sobressalto, mas tentei esconder o ramo, colocado estrategicamente a meu lado para poder sentir a tua reacção o mais próximo possível quando te deparasses com a surpresa. A tal surpresa que anunciei desajeitadamente por mensagem e te fazia apressar o passo. Apesar da ansiedade que te recortava o rosto, trazias igualmente o sorriso pelo qual me enamorei. Trémulo, mas estava lá. E quando a surpresa deixou de o ser, a tua pálida face abriu-se num enorme e belo sorriso que me fez disparar a pulsação vertiginosamente. Por momentos julguei ter conseguido, mas a felicidade foi momentânea. O choro compulsivo que atravessou a perfeição revelou-me de imediato que seria impossível. Nunca acreditei no destino, mas nesse momento tive a terrível sensação que nada mais por nós havia a fazer. Estava escrito algures que os nossos caminhos se cruzavam apenas por algum tempo. Mais tarde ou mais cedo uma qualquer encruzilhada confirmaria o inevitável. Apesar disso não desisti. Lutei muito e durante muito tempo contra isso. Recusava-me terminantemente a aceitar. O silêncio corrói, sufoca e sinto que é altura de o desmascarar.
Tentei dar-te os parabéns pelo noivado. Não consegui. Tentei desejar-te as maiores felicidades pelo casamento, mas ainda foi pior a emenda que o soneto. Algo mais forte o impedia. Talvez a teimosia. A simples ideia de te perder para sempre era demasiado aterradora. E continuei na zona de conforto à qual chamo silêncio. Parece um paradoxo classificar o silêncio como corrosivo, sufocante e confortável ao mesmo tempo. No entanto, é apenas e somente caracterizado por possuir várias faces, distintas ou não entre si. Tal e qual como o teu sorriso extasiante ao qual se adicionaram lágrimas. Lágrimas de impotência, presumo. Continuo a acreditar e a sentir que assim seriam. E só quando percebi o funcionamento do silêncio concluí que já te tinha perdido há muito tempo. 10 anos para ser exacto. Naquela tarde fria de Outono, naquele banco de jardim.

domingo, novembro 13, 2011

Raptaram a Democracia


Primeiro, a implosão do Socialismo a Leste. Depois e de forma contínua, a submissão da Social-Democracia Ocidental ao Neoliberalismo até se chegar ao estado a que isto chegou. Deixaram o Capitalismo à solta e agora admiram-se que, nem Democracia Burguesa, muito menos Democracia Popular. A Europa está refém da Ditadura Financeira. É a hora dos tecnocratas assumirem o poder na Grécia e em Itália sem a legitimidade do voto popular. Basta-lhes o aval do eixo Merkozy-Mercados. O centro-esquerda capitula incondicionalmente e junta-se sem hesitação à direita conservadora e liberal na aplicação cega das medidas de austeridade que só irão provocar mais recessão e miséria. Este é o momento das esquerdas deixarem as fracticidas disputas ideológicas e promoverem a Unidade, na Rua e, posteriormente, nas Urnas.