terça-feira, novembro 30, 2010

O detalhe que (não) fez a diferença


Cinco golos sem resposta. O Barça provou que é a melhor equipa da actualidade, estatuto que ostenta de forma incontestável desde Setembro de 2008 e que apenas foi beliscado pelo Inter de Mourinho na última meia-final da Champions no passado mês de Abril. Desde então o seu futebol avassalador - o famoso tiki-taka, orquestrado pelas referências Xavi e Iniesta e potenciado pelo fenómeno Messi - poucas ou nenhumas hipóteses tem dado ao seu maior rival interno, que foi novamente cilindrado, após o humilhante 6-2 no Bernabéu em Maio de 2009.

Desta vez havia Mourinho e Cristiano Ronaldo. E também Ozil, Di Maria, Khedira, Ricardo Carvalho… logo, esperar-se-ia muito maior réplica por parte da formação merengue, que se limitou a ver jogar, irremediavelmente pressionada à entrada da sua zona defensiva e a perder a cabeça perante tamanho domínio. Salvaram-se razoáveis 15 minutos finais da primeira parte, período onde o Real Madrid conseguiu equilibrar a contenda e onde se pode queixar de um grave erro da arbitragem, com eventual prejuízo no resultado final da partida.

Só o senhor Iturralde González é que não viu este derrube

O lance é entre Cristiano Ronaldo e Valdés com o craque português a ser nitidamente abalroado pelo guarda-redes catalão. Penalty clássico que o árbitro da partida não puniu tecnicamente nem disciplinarmente, já que seria o segundo cartão amarelo para o infractor e consequente vermelho. O Real Madrid teria oportunidade soberana para colocar o marcador na desvantagem mínima e disporia de vantagem numérica na etapa complementar, sem esquecer que o guardião suplente dos blaugrana, Pinto, é pouco mais que mediano. Um lance, o detalhe na avalanche catalã que (não) fez a diferença.

terça-feira, novembro 23, 2010

Greve Geral

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A velha social-democracia europeia saída do pós-guerra e assente no modelo de Estado Social está à beira do colapso devido à promiscuidade com o neoliberalismo e excesso de economia de mercado. A Terceira Via introduzida por Blair e seguida na sua essência pela esmagadora maioria dos governantes europeus de centro-esquerda revelou-se um tremendo fiasco, confundindo-se em demasia com as políticas neoliberais das forças de centro-direita.

Tudo isto está na origem da extinção das democracias burguesas ocidentais tal qual como a conhecíamos. Assistimos impávidos e serenos à ditadura dos mercados, que mandam e desmandam no poder político, que pouco ou nada faz para defender os direitos dos cidadãos que os elegeram, castigando-os com mais impostos e menores salários, sempre em nome dos mercados, essa entidade divina que não pode ser beliscada com a mínima medida progressista. Contudo, o Deus-Mercado esquece-se que ainda são os trabalhadores que produzem e fazem o mundo avançar.

Amanhã é dia de greve geral histórica em Portugal com as duas centrais sindicais unidas após 22 anos de divergências. Os portugueses terão a oportunidade de falar a sério quando dizem que estão fartos de pagar as crises que não provocaram. Nós, os jovens (a geração 500 euros, precária e desempregada) temos a hipótese de afirmar convictamente que o trabalho é um direito e não um privilégio. Fazemos greve porque queremos um futuro social e não neoliberal. Fazemos greve porque é a única resposta que podemos dar à sociedade quando os patrões e os governantes são as mesmas pessoas e só se beneficiam a si próprios. Fazemos greve porque somos portugueses e os nossos pais e avós lutaram pelo direito de mostrarmos o nosso descontentamento. Fazemos greve porque não temos medo de a fazer!

domingo, novembro 21, 2010

Lixo tóxico

 
Eu juro que tentei manter-me alheado da catadupa de informação tendenciosa sobre a cimeira de criminosos de guerra que se realizou este fim-de-semana em Lisboa, mas não consegui! A avalanche noticiosa foi de tal ordem penetrante, incessantemente repetitiva e banal, que só me ficou faltar a saber qual era a cor da roupa interior do Obama. O novo sistema anti-míssil e a data da retirada do Afeganistão foram anunciadas como tremendos sucessos pela cobertura mediática, lacaia do imperialismo e do capitalismo. Os progressistas, comunistas, anarquistas e outros activistas de esquerda que se manifestaram pela paz foram apelidados, no mínimo, de terroristas, que iriam provocar o caos e a desordem pelas ruas da capital portuguesa. Afinal, não houve qualquer problema e ninguém deu pela falta dos dispendiosos blindados que nem sequer chegaram a tempo para a cimeira...

Posto isto, só me resta concluir com o óbvio: a NATO é uma organização criminosa, militarista e imperialista que não tem qualquer razão de existir desde a extinção do Pacto de Varsóvia, ou seja, há cerca de 20 anos que actua de forma ilegal, espalhando a morte e o terror em várias zonas do globo, sejam elas o Iraque, o Afeganistão ou a antiga Jugoslávia. Tudo isto em proveito dos EUA e da sua vergonhosa política de domínio do mundo pela força das armas.

40 mil pessoas manifestaram-se pela Paz

E o que dizer do cancelamento do concerto dos Arcade Fire nas vésperas do mesmo, da tolerância de ponto, do encerramento de serviços públicos, da limitação da circulação nas vias de comunicação, …

quinta-feira, novembro 18, 2010

Citações de Saramago (Parte V)


"A Língua, o instrumento fundamental da comunicação, é tratada como se fosse um esfregão. Os jovens saem da universidade a escrever mal e, quem escreve mal, não consegue pôr por escrito uma ideia."

Visão, 26 de Outubro de 2010

Olé!


Se ganhar a Espanha é sempre bom, golear é simplesmente demais! Ainda para mais quando o eterno rival é campeão europeu e mundial em título, sem esquecer que fomos afastados por esta mesma roja nos oitavos-de-final do último Mundial. E se em terras sul-africanas foi suficiente um golo obtido em fora-de-jogo por David Villa para decidir a contenda, desta vez um fiscal-de-linha com sérios problemas de visão decidiu anular, de forma completamente estapafúrdia, um golo do outro mundo a Cristiano Ronaldo! Não só Nani estava em jogo, como cabeceia para lá da linha final! Sim, o extremo do Man Utd foi jumento! Não se deve nunca tirar um golo a um colega de equipa, ainda para mais um golo desta qualidade, embora nada desculpe o duplo erro de avaliação do árbitro assistente. Passe o exagero, um verdadeiro crime! Um lance mágico de CR7 a trocar completamente as voltas a Piqué e a picar a bola sobre Casillas com uma classe tremenda! Fez-me lembrar de imediato o golo de Platini contra o Argentinos Juniors na Taça Intercontinental de 1985. Porque será que os golos de génio são injustamente invalidados?

Quanto ao jogo em si, Portugal vulgarizou por completo Espanha, graças a uma dinâmica e entrega ao jogo deveras assinalável. Com esquemas tácticos idênticos (4*3*3), esteve aí a verdadeira diferença entre as equipas. A roja é uma selecção aburguesada, que parece exibir-se à sombra das conquistas recentes. Sim, é certo que foi apenas um encontro amigável, mas estava em causa o prestígio, alicerçado numa rivalidade secular. Depois dos recentes triunfos sobre a Dinamarca e a Islândia, nada melhor do que esmagar Espanha para recuperar o orgulho e a empatia do povo para com a sua selecção. Mérito de Paulo Bento, que não só não inventa, colocando em campo os melhores jogadores e nas posições correctas, como transmite total confiança aos seus comandados através de um discurso coerente, ponderado, sério e honesto como é apanágio da sua personalidade.

A sempre inteligente e oportuna imprensa espanhola falava num pré Barcelona vs Real Madrid, numa alusão ao facto de a maioria dos principais jogadores da roja pertenceram aos blaugrana e enfrentarem o trio merengue composto por Ronaldo, Carvalho e Pepe. Pelos vistos, nunca pensaram em sair toureados da Luz. A humilhação só não foi ainda maior devido ao lance descrito no primeiro parágrafo. Depois de encaixarem 4 da Argentina em Setembro, mais 4 de Portugal e desta vez nem tiveram direito a tento de honra, já que na única oportunidade propriamente dita, Silva, em posição privilegiada, cabeceou ao lado. Algo vai mal na equipa de Del Bosque...
A magia de Ronaldo

domingo, novembro 14, 2010

Resta-nos o Futsal...


Aproveitando a proximidade geográfica desloquei-me ontem a Mogadouro para assistir ao jogo de Futsal entre a equipa local e o Belenenses, válido para a 8ª jornada do Campeonato Nacional da I Divisão. Confronto directo entre o último e o primeiro classificado. Seria de prever grande desequílibrio no marcador, mas a verdade é que a formação transmontana deu muita réplica, vendendo bastante cara a derrota. Apoiada por um público entusiasta, que quase enchia o pavilhão e beneficiando do espaço exíguo do recinto, a equipa do Mogadouro - consciente da evidente supremacia técnica, individual e colectiva do adversário - postou-se declaradamente à frente da sua baliza, apostando todas as suas fichas na retranca e no contra-ataque.

A verdade é que a estratégia deu resultado, pelo menos na primeira parte, período de tempo em que o Belenenses sentiu grandes dificuldades para penetrar na cerrada defensiva do Mogadouro. O empate a duas bolas registado ao intervalo premiava a capacidade de sofrimento da equipa local, submetida a asfixiante pressão e ainda capaz de concretizar em dois lances de puro contra-ataque. Na segunda metade tudo foi diferente com a equipa lisboeta a impor naturalmente a sua superioridade na sequências de duas bolas paradas. O pragmatismo revelado pelos jogadores azuis foi mais que suficiente para garantir a vitória por 4-2 e assegurar a manutenção da liderança do campeonato.

Com o clube enterrado em dívidas e presidido por um deputado do CDS. Com o espectro da queda na 3ª Divisão a pairar sobre a equipa de Futebol. Com o Andebol e o Râguebi a passarem por fases de menor fulgor, resta os Conquistadores - apelido pelo qual é conhecida a equipa de Futsal - para dar algumas alegrias e esperanças aos adeptos do Belenenses. Depois dos vice-campeonatos de 2008 e 2009 e do triunfo na Taça de Portugal da época passada, será esta a temporada do tão almejado título?

sábado, novembro 13, 2010

Lateral esquerdo


Desde que comecei a assistir e a acompanhar com olhos de ver o fenómeno de massas que dá pelo nome de Futebol, por volta de 1993-1994, que me lembro que a posição de lateral esquerdo é a mais deficitária, com menor qualidade entre os seus protagonistas. Na altura havia um único lateral canhoto de nível mundial, Paolo Maldini, jogador completíssimo e elemento fulcral no Milan e na nazionale, que se manteria no topo durante muitos e bons anos. Na Juventus, evoluía um jovem com enorme potencial, Andrea Fortunato, que ambicionava lutar pela camisola 3 azzurra. Infelizmente, a sua carreira teve um final precoce e trágico devido a uma leucemia, falecendo em Abril de 1995 com apenas 23 anos de idade.

No Brasil campeão do mundo'94 rivalizavam pela posição o veterano Branco, dono de pontapé canhão e o talentoso Leonardo, que não tardaria a avançar no terreno, para posições mais consentâneas com o requinte do seu pé canhoto.

O basco Lizarazu marcou uma época na lateral esquerda francesa. Baixinho, mas bastante aguerrido e acutilante, extremamente útil nos processos ofensivos. Pearce, Ziege e Sergi foram dignos representantes da escola britânica, germânica e espanhola. O inglês, fiel à velha máxima antes quebrar que torcer, foi durante anos a fio figura de proa do Nottingham Forest e da selecção da rosa, ficando marcado pelo penalty desperdiçado na meia-final do Itália’90. Já o alemão, campeão europeu em 96, era o protótipo do típico jogador germânico, ultra-competitivo e possuidor de forte e colocado pontapé. Quanto ao catalão, campeão olímpico em 1992, e, apesar de possuir bons atributos técnicos, enquadrava na perfeição na essência e no espírito da fúria roja.

Nos Jogos Olímpicos de 1996 em Atlanta acompanhei com interesse as exibições portentosas de um meia-leca entroncado e supersónico lateral brasileiro, Roberto Carlos, que tinha desiludido na temporada de estreia no futebol europeu ao serviço do Inter. Na época seguinte, foi contratado pelo Real Madrid, onde actuou durante 11 anos consecutivos, grande parte dos quais a nível altíssimo. Fortíssimo física e tecnicamente, extremamente veloz, destacava-se na potência que imprimia aos seus remates, qualidade que lhe valeu o incrível número de 69 golos em 527 jogos pelos merengues.

O Mundial de 2006 marca o princípio do declínio daquele que foi considerado durante anos a fio como o melhor lateral esquerdo mundial. Ashley Cole e Patrice Evra perfilavam-se como naturais sucessores, mas a verdade é que nunca conseguiram atingir um nível extraordinário. Ambos perto dos 30 anos, mantém-se como opções efectivas nos respectivos clubes e selecções, mas vêm-se relegados para segundo plano devido ao mediatismo dos emergentes Gareth Bale, Fábio Coentrão e Marcelo, a nova geração de laterais esquerdos.

Antes de completar 17 anos e já o galês se estreava pelo Southampton. Dois anos depois transferia-se para o Tottenham pela módica quantia de 10 milhões de libras. Depois de duas temporadas de aprendizagem, onde muitas das vezes foi preterido pelo camaronês Assou-Ekotto, afirmou-se de vez na primeira equipa dos spurs em 2009/10. Forte fisicamente, evoluído técnica e tacticamente, hábil no cruzamento e no passe, ou seja, estamos perante um jogador completo, não estranhando que passasse a alinhar em muitas das ocasiões como médio-ala esquerdo. Os recentes jogos contra o Inter para a Champions consagraram-no como um dos mais apetecíveis alvos dos principais clubes europeus, embora o clube londrino não pareça nada inclinado em desfazer-se da sua pérola.

Natural das Caxinas, lugar piscatório de Vila do Conde, fintou um provável futuro no mar graças ao talento do seu pé canhoto, levando o Benfica a pagar 1 milhão de euros pelo extremo ao Rio Ave em 2007. Cabeça no ar, passava mais tempo a atirar-se para o relvado do que a tentar jogar futebol. Depois de vários empréstimos, regressou à Luz no Verão de 2009. Poucos apostariam que Jesus o mantivesse no plantel principal, mas a verdade é que não só o fez, como viu neles qualidades para actuar como lateral esquerdo. A aposta revelar-se-ia um êxito, formando uma ala esquerda demolidora com Di Maria e efectuando um Mundial’2010 de elevada qualidade. A cotação tem subido continuamente em flecha e não surpreenderá nada se muito em breve algum tubarão pagar os 30 M € da clausula de rescisão.

Quanto ao carioca, bastou apenas uma temporada ao serviço do Fluminense para ser considerado o melhor lateral esquerdo a actuar no futebol brasileiro, sendo contratado em Janeiro de 2007 pelo Real Madrid, que pagou 6 milhões de euros pelo passe do jovem de 18 anos. Depois de um natural período de adaptação e de ter posteriormente oscilado entre as posições de lateral e médio-ala, parece firmar-se como o defesa esquerdo pretendido por Mourinho, que já reconheceu publicamente que as dúvidas sobre o potencial do brasileiro como lateral estavam completamente dissipadas. Defendendo cada vez melhor e atacando como poucos, parece estar encontrado o sucessor de Roberto Carlos na canhota merengue e na canarinha.

Para terminar impõe-se a pergunta: qual dos três atingirá nível mais elevado?

sábado, novembro 06, 2010

O debate


6 de Novembro de 1975. Portugal em pleno PREC, ambiente de pré-guerra civil. O país parou para assistir a debate histórico na televisão, 3 horas e 40 minutos de confronto entre os principais líderes das forças antagónicas, Mário Soares, secretário-geral do Partido Socialista e Álvaro Cunhal, secretário-geral do Partido Comunista Português.


Passados 35 anos e partindo do visionamento deste pequeno vídeo onde se incluem as principais passagens do debate, é fácil concluir que Cunhal tinha razão. Soares alinhou sempre com as forças reacionárias e conservadoras em detrimento das progressistas e revolucionárias, formando governos ora com o CDS ora com o PSD, metendo o Socialismo na gaveta (Guterres trancou-o a sete chaves e Sócrates queimou-o...) e tornando-se vassalo dos EUA e da Europa Ocidental.

Soares não tinha razão quando acusou Cunhal e o PCP de quererem impor uma ditadura pró-soviética em Portugal. Aqui, bastou esperar 19 dias para provar isso mesmo, quando o Partido Comunista não apoiou a tentativa de golpe militar levada a cabo por forças da extrema-esquerda, no célebre 25 de Novembro, que teve como grande vencedor Ramalho Eanes e o seu Grupo dos 9, e o próprio Mário Soares, assim como toda a direita em geral.