Em Maio de 93 vibrei intensamente com a conquista da Taça UEFA por parte da
Juventus, uma equipa de sonho onde pontificavam nomes como
Roby e Dino Baggio, Vialli, Ravanelli, Conte, Ferrara e Peruzzi. Desde essa data tornei-me adepto indefectível da
vecchia signora, entusiasmei-me com a maravilhosa equipa de Lippi e as suas inesquecíveis conquistas, enfureci-me com as finais da
Champions perdidas perante Dortmund e Real Madrid, agonizei com o vazio de títulos durante a gestão de Ancelotti, vibrei com o regresso de Lippi e a conquista de novos títulos, chorei ao ver as lágrimas de Nedved após a semi-final com o Real Madrid, praguejei contra Capello por deixar insistentemente Del Piero no banco, envergonhei-me com o
Calciocaos, recomecei da
estaca zero com a queda na Série B e confio num futuro vitorioso muito em breve.
Tudo isto vivido com muita emoção, gratuita, como é normal num comum adepto. Como tal sinto-me no pleno direito de rebater por completo as injustas acusações que o profissional Mourinho, assalariado do
Inter por 9 milhões de euros anuais, dirigiu à Juventus.
Muito sinceramente penso que já vi este
filme de Mourinho, tal e qual como aconteceu aquando da sua passagem pelo FC Porto. Com as ajudas da arbitragem a tornarem-se cada vez mais óbvias e flagrantes o tom cerrado das críticas aumentou e Mourinho sentiu a necessidade de
disparar em todas as direcções com o objectivo perfeitamente compreensível de aglutinar jogadores e dirigentes na luta contra os
inimigos do clube que representa, exactamente como fez esta semana!
Não acredito que Moratti esteja a corromper árbitros como Pinto da Costa fez, acredito sim que os árbitros tenham uma tendência natural para beneficiar a equipa mais poderosa do campeonato, aquela que tem exercido um domínio inequívoco nos últimos anos, uma espécie de
estigma ou
élan que protege os mais fortes. Foi assim com a Juventus e o FC Porto na década de 90. Sigo atentamente a
Premiership e noto um certo proteccionismo ao
Man Utd, não é muito evidente à primeira vista, mas ouso afirmar que ele existe. Apesar de ser errado acaba por ser normal um certo benefício aos chamados
grandes e como tal só ficava bem a Mourinho reconhecer esse facto, mas nunca até hoje o ouvi dizer que a sua equipa tinha sido beneficiada, apenas o tal lance de Siena que é tão flagrante que só lhe ficava ainda mais mal não o reconhecer...
Os principais jornais desportivos italianos não tardaram em fazer comparações entre erros a favor e contra de
Inter e
Juve e até elaboraram classificações virtuais. Como a
Gazzetta dello Sport e o
Tuttosport são fortemente conotados com os emblemas em questão achei por bem ter apenas em consideração a análise do romano
Corriere dello Sport. Quem estiver interessado está
aqui o link.
Segundo o referido diário os
nerazzurri teriam 15 decisões a favor e 8 contra enquanto os
bianconeri 10 favoráveis e 6 desfavoráveis. Debrucei-me então sobre a análise pormenorizada dos lances e constatei que alguns deles nem deveriam contar visto que na altura em que ocorreram já os respectivos desafios estavam mais que decididos. Depois ri-me com a descrição do lance do golo de Ronaldinho contra o Inter na primeira volta, que deveria ter sido anulado porque Kaká estava com o pé direito fora de jogo...
Lá me concentrei, tentei ser o mais imparcial possível e conclui que a
Juve não se pode queixar nem sentir bafejada pelas arbitragens. É certo que há erros graves a favor tais como o
penalty não assinalado a favor do Catania ou o cometido por Mellberg sobre Jovetic e o golo anulado a Gilardino, ambos com influência directa no resultado, mas também existem
penalties não assinalados contra Lecce, Cagliari ou Palermo igualmente decisivos no marcador final.
Quanto ao Inter tem realmente um saldo de decisões favoráveis e decisivas bem superior às contrárias. Começando pelos
penalties de Zanetti em Génova e de Burdisso em Florença, passando pelo
off-side de Maicon em Siena, o golo com a mão de Adriano e o
penalty fantasma de Balotelli vão muitos eventuais pontos a favor que um
penalty de Abate (Torino) e o pé direito de Kaká não compensam de maneira nenhuma!
Ainda esta semana nos jogos a contar para a Taça de Itália se viu a diferença de tratamento: Iaquinta viu-lhe ser um golo anulado por estar no máximo dos máximos com o braço esquerdo fora de jogo enquanto Cordoba e Zanetti continuaram em campo depois de efectuarem entradas duríssimas. A mesma sorte já não teve Gastaldello da
Samp...
Espero vivamente que este
caso Mourinho e a polémica sobre as arbitragens sejam encerrados o quanto antes e que os protagonistas do
Calcio voltem a pensar naquilo que é realmente importante e bonito: o futebol jogado dentro das quatro linhas!