domingo, junho 28, 2009

Lendas do Relvado: Futre (Parte II)


Nem a conquista da Taça do Rei em Junho de 1992 disfarçou a grave crise financeira que assolava o clube de Manzanares e no final do ano Gil aceitou, por fim, negociar Futre, pedindo 750 mil contos (3,75 milhões de euros) a Sousa Cintra (presidente do Sporting). Este pede algum tempo para reunir a verba, avultada para a época, permitindo a entrada do Benfica no negócio com dinheiro adiantado pela... RTP, facto que levou o primeiro-ministro Cavaco Silva a destituir o Conselho de Administração da televisão pública. Futre assinou pelos encarnados mantendo o ordenado nos valores próximos dos 30 mil contos mensais, uma verdadeira fortuna na altura em Portugal!



A decadência (Benfica, Marselha, Reggina, Milan e West Ham)


Futre disputa então a segunda metade da temporada de 1992/93 na Luz, mas apenas se destaca ao apontar o golo solitário da vitória frente ao Sporting e o campeonato acaba por ser conquistado pelo FC Porto. A final da Taça frente ao Boavista é o grande momento da sua passagem pelo Benfica. Futre arranca uma exibição magistral, apontando 2 golos numa retumbante vitória dos encarnados por 5-2!


A alegria é de pouca dura já que o Benfica parte então para o Verão mais complicado da sua história! O buraco financeiro é enorme, Paulo Sousa e Pacheco rescindem os contratos, alegando salários em atraso e assinam pelo rival Sporting. O presidente Jorge de Brito negoceia o passe de Futre com o Marselha por 900 mil contos (4,5 milhões de euros). Pouco depois rebenta o escândalo de corrupção envolvendo o clube de Bernard Tapie e Futre é contratado em Novembro de 1993 pelo modesto Reggiana, último classificado da Série A.


Contudo, o sonho de menino de jogar no Calcio rapidamente se tornou pesadelo. Estreia-se com um soberbo golo diante da Cremonese, mas pouco depois uma entrada duríssima de um adversário provoca-lhe a rotura dos tendões do joelho direito. É submetido a intervenção cirúrgica falhando assim o resto da temporada.


Quase miraculosamente a Reggiana consegue manter-se na Série A. Futre regressa na época seguinte, mas as recaídas são uma constante, o joelho continua bastante frágil e disputa apenas 12 jogos, apontando 4 golos, insuficientes para manter o emblema de Reggio Emilia na divisão principal do futebol italiano.


Apesar do insucesso, Futre desperta o interesse de Capello, que o contrata para o Milan. Em Junho de 1995 disputa o seu último jogo pela selecção portuguesa frente à Letónia no estádio das Antas no Porto. No total foram 41 jogos e 6 golos por Portugal e somente uma fase final de uma grande competição disputada (México’86), manifestamente pouco para quem tanto prometera...


A época seguinte é novamente passada em enfermarias e nas bancadas dos estádios. Actua somente uma partida pelos rossoneri, o último jogo da temporada frente ao Cremonese, uma estrondosa goleada por 7-1 que consagrou o Milan como campeão italiano de 1995/96.


Futre tenta dar um novo impulso à carreira e assina pelos lodrinos do West Ham para a temporada seguinte. Rapidamente o impacto inicial se esfuma e a época é novamente perdida devido a recorrentes lesões no malfadado joelho direito.


No início do Verão de 1997, Futre convoca uma conferência de imprensa em Lisboa e anuncia o final da carreira com apenas 31 anos de idade.



O regresso (Atlético de Madrid e Yokohama Flugels)


Pouco tempo depois do adeus aos relvados e incentivado pelo velho amigo Gil y Gil, Futre assume o cargo de secretário técnico do Atlético de Madrid. Os colchoneros, campeões espanhóis em 1996, tentam assegurar reforços que lhes permitam assegurar a conquista de novo título. Futre toma então parte activa nas contratações do italiano Vieri e do brasileiro Juninho, reforços sonantes, que transformam o Atlético num sério candidato à conquista do campeonato.


Para manter a forma física, Futre deixa por algumas horas o gabinete e treina com a equipa principal. Fascinados com as qualidades que o português ainda demonstra possuir, nomeadamente as acelerações explosivas, vários pesos pesados do plantel, entre os quais Kiko, Camiñero e Simeone, pedem ao treinador Radomir Antic que integre Futre no plantel! O sérvio responde afirmativamente e Futre é convencido a deixar o fato e a gravata, voltando a vestir os calções e a camisola rojiblanca!


As expectativas eram elevadas, mas o Atlético não consegue melhor que a 5ª posição e Antic sai no final da época. Apesar da forte concorrência e dos constantes problemas no joelho, Futre alinha em 10 partidas, mostrando ainda que quem sabe nunca esquece. No total jogou 173 vezes e marcou 37 golos pelos colchoneros no campeonato espanhol.


Na época seguinte parte para o Japão, aceitando o desafio lançado pelo Yokohama Flugels. A aventura é fugaz, as dores no joelho em competição são insuportáveis e Futre dá definitivamente por terminada a carreira de futebolista profissional em 1999.



O dirigente, o empresário e o legado


Afasta-se do futebol cerca de um ano, mas o apelo de Gil y Gil em conjunto com a queda na II Divisão do Atlético de Madrid levam-no a aceitar o cargo de director desportivo do emblema rojiblanco no Verão de 2000. A primeira temporada não corre bem pois o clube falha a promoção ao escalão principal pela diferença de golos em relação ao Tenerife. No entanto, essa época fica marcada pela estreia de um jovem jogador de 17 anos, Fernando Torres, elemento fulcral na conquista do título na temporada seguinte e respectiva promoção à I Divisão pela mão do histórico Luis Aragonés.


Em Março de 2003 é anunciada a ruptura entre Gil e Futre, mais uma vez a relação amor-ódio a fazer efeito e o português acabaria por sair do clube no final da temporada.


Cerca de dois anos depois novo regresso, desta vez ao Milan, para exercer o cargo de embaixador e olheiro na Península Ibérica do emblema rossonero. Segundo muitas especulações o principal objectivo do Milan era o de referenciar Fernando Torres para uma possível futura contratação.


Futre vive actualmente em Madrid e é empresário no ramo do intercâmbio entre empresas portuguesas e espanholas que se queiram estabelecer e negociar no país vizinho. Terminada a ligação ao Milan afastou-se do futebol, esse mundo de dois cumes que tanto o tem esquecido nos últimos tempos, em especial o futebol português. Recentemente foi lembrado aquando do duelo entre o FC Porto e o Atlético de Madrid para os 1/8 de final da Champions. A sinceridade, emoção e personalidade forte que sempre o acompanharam durante a carreira de futebolista foram novamente patenteadas ao assumir sem rodeios que estava a torcer pelo Atlético, clube do coração. Este facto fez disparar as críticas da generalidade da medíocre imprensa portuguesa.


Paulo Futre é unanimemente considerado como um dos melhores jogadores portugueses de sempre. Talento precoce e explosivo viu a sua carreira ter menos brilho do que o previsto devido a algumas escolhas menos felizes e a graves e recorrentes lesões no joelho direito.


É idolatrado pelos adeptos do Atlético de Madrid, que não esquecem as suas magníficas exibições com a camisola rojiblanca e o facto de nunca ter aceite jogar pelo rival merengue.


Tem dois filhos, o mais novo, Fábio de 18 anos, actua como extremo tal como o pai e joga nos júniores do Atlético de Madrid, tendo já representado as selecções jovens portuguesas.



Final da Copa do Rey'92, o sublime golo no Bernabéu

2 comentários:

Ricardo disse...

"Nem a conquista da Taça do Rei em Junho de 1992 disfarçou a grave crise financeira que assolava o clube de Manzanares e no final do ano Gil aceitou, por fim, negociar Futre,"

tas enganado lol foi nesse periodo que o gil conseguiu desviar o maximo de dinheiro da camara de marbella para o clube transformando o próprio clube em sad sendo ele maior accionista, porque achas que ganharam tudo em 95/96.
Ainda me lembro da carrada de treinadores que o gajo despediu nessas epocas LOL , jogam mal? despede-se o treinador xD

João Caniço disse...

Ricardo, escrevi o seguinte na Parte I: "Só para se ter uma pequena ideia, nos 5 anos e meio que Futre representou os colchoneros teve 15(!) treinadores"
Obviamente que todos estes despedimentos tiveram custos astronómicos para o clube. Se o Atlético vivesse numa boa situação financeira não teria vendido o seu melhor jogador a meio da temporada 92/93...
Sobre os desvios de dinheiros e gestão fraudulenta de Gil é outra conversa, aliás ele foi punido pela justiça espanhola por isso mesmo.
O título e a taça de 95/96 foram conquistados graças a uma excelente equipa onde pontificavam nomes como Caminero, Kiko, Penev, Simeone, Pantic, Molina, Santi, Toni,..., extremamente bem liderada por Radomir Antic, um treinador de enorme categoria, que soube vencer com grande mestria o 'Barça' de Cruyjf, com Figo, Hagi, Prosinecki, Guardiola, Popescu, Sergi, Nadal,...