domingo, maio 23, 2010

'Déjà vu'


Ao assistir aos minutos iniciais da final da Champions'2010 fiquei com a nítida sensação de já ter assistido a este filme, mais propriamente uma mistura da final de 2004 em Gelsenkirchen com a recente meia-final de Camp Nou. Tremendamente fiel aos seus princípios básicos de jogo, Mourinho não abdicou da segurança e solidez defensiva, oferecendo o domínio de jogo ao Bayern e esperando pelo erro contrário para desferir o golpe de misericórdia.

Curiosamente ou talvez não, o Bayern começou a perder esta final no Verão passado quando Van Gaal dispensou o excelente Lúcio, apostando numa dupla de centrais constituída pelos imponentes Demichelis e Van Buyten, fortíssimos fisicamente, mas extremamente duros de rins e quase tão lentos como uma tartaruga. Mourinho não se fez rogado e contratou o capitão da selecção brasileira por uma verdadeira pechincha. Ontem, tal como em toda a temporada, Lúcio voltou a ser dos melhores jogadores do Inter, ao contrário dos seus dois antigos companheiros de equipa, verdadeiramente desastrosos na abordagem aos lances que deram os golos a Milito.

O avançado argentino já havia sido decisivo na conquista da Coppa Italia e do scudetto ao apontar os tentos que consumaram essas conquistas, voltando a mostrar classe pura defronte da baliza. Dois remates, dois golos. Que mais se pode pedir a um ponta de lança?
Do lado bávaro destaque por inteiro para Robben. O extremo holandês, mesmo sem grandes espaços, fez a cabeça em água a Chivu, provando mais uma vez que, caso não fossem as constantes e arreliadoras lesões, estaria a um nível semelhante ao de Messi e Cristiano Ronaldo.

O Inter fez por merecer o triunfo, foi a equipa mais compacta, mais segura, mais equilibrada e com maior sentido de entre-ajuda colectiva. Apenas no início da segunda parte o jogo deu ares de poder virar a sua sorte com o Bayern a desfrutar de três ocasiões soberanas de golo. Muller, completamente isolado na cara de Júlio César, não teve arte nem engenho para desfeitear o guardião brasileiro, depois Cambiasso fez um corte milagroso quando a bola se encaminhava para as redes e finalmente Robben, com um trabalho individual notável, a rematar em arco para defesa fantástica de Júlio César. Os nerazzurri voltaram a organizar-se, aliviando a pressão e dando a estocada final novamente numa jogada de contra-ataque.

Mourinho conquista assim o seu segundo ceptro europeu e vai partir para Madrid em busca de um inédito terceiro por outros tantos clubes. Poderá não ser o tipo mais simpático, muito menos o mais humilde, mas é brilhante tacticamente e na motivação que confere aos seus jogadores. Paralelamente a isto exibe sempre uma confiança tal que acaba invariavelmente por ter a estrelinha da sorte do seu lado. Em poucos anos como treinador principal já tem o seu nome inscrito entre os maiores mestres do jogo. Com ambição desmedida, parecem não haver limites para a sua sede de conquistas. Até onde chegará este homem?

sábado, maio 22, 2010

'You Got Me'...


...infelizmente não no Parque da Bela Vista em Lisboa, mas defronte da tv na expectativa de assistir a um excelente concerto. Go Leo(n)a!


Leona Lewis "I Got You"

sexta-feira, maio 14, 2010

Queiroz, o comediante


"Quim é menos futuro." e "Não conto com Pepe como defesa." Eis as duas pérolas da primeira conferência de imprensa de Carlos Queiroz na Covilhã.

Sobre a explicação para a exclusão da convocatória do melhor guarda-redes português da actualidade só me ocorre perguntar se vamos disputar o Mundial agora ou daqui a 4 anos?
Em relação à posição em campo do luso-brasileiro, de facto tem-se destacado ao longo da sua carreira como centrocampista, um nº 6 completo, um trinco por excelência...

quinta-feira, maio 13, 2010

Vamos lá acabar com as euforias!


Benfica campeão, convocatória de Queiroz e visita do Papa. A semana prometia ser alegre e risonha no país dos 3 F's: Fátima, Futebol e Fado. Eis então que a nova dupla governamental formada por Sócrates e Passos Coelho decide acabar com as euforias anunciando uma nova e pesada carga fiscal que carrega ainda mais os já debilitados ombros dos do costume, trabalhadores e classe média. Tudo isto apenas um dia depois da largamente festejada subida do PIB nacional, num não menos fantástico ponto percentual. A economia portuguesa está bem e recomenda-se, mas como os outros países da zona euro estão a controlar o défice é de bom tom fazer o mesmo, nada melhor do que demonstrar solidariedade europeia, terão pensado os líderes dos partidos do Centrão... Afinal, ainda não há muito tempo (15 dias (?)) juravam a pés juntos que não iriam aumentar os impostos. O ditado "o que é hoje é verdade, amanhã é mentira" serve na perfeição para rotular estes dois iluminados da política portuguesa.

segunda-feira, maio 10, 2010

Fixe, fixe...


...era amanhã a nuvem de cinzas ser tão densa que o antigo membro da juventude hitleriana e protector de pedófilos não conseguisse viajar para Portugal... para um país constitucionalmente laico e que está à beira da bancarrota era a maneira ideal de se evitar a vergonhosa tolerância de ponto concedida pelo Governo para a próxima quinta-feira...

Os 'meus' 23... e os 24(?) de Queiroz


Quim (Beto)
Eduardo
Rui Patrício (Daniel Fernandes)
Miguel
Rúben Amorim (Paulo Ferreira)
Ricardo Carvalho
Pepe
Bruno Alves
Rolando
(Zé Castro)
Fábio Coentrão
Duda
Pedro Mendes
Miguel Veloso
Raul Meireles
Tiago
Carlos Martins (Ricardo Costa)
Deco
Simão
Nani
Cristiano Ronaldo
Liedson
Hugo Almeida
Nuno Gomes (Danny)

Entre parêntesis e a negrito as diferenças para a convocatória de Queiroz.

Muito sinceramente, as minhas expectativas para o anúncio dos eleitos de Queiroz eram bastante baixas, mas nunca pensei que conseguissem atingir um nível tão ruim! As incongruências do seleccionador nacional são tantas e de tão elevada ordem que nem sei por onde começar...

Principiemos então pelo número de convocados, 24, supostamente para atentar sobre a condição física de Pepe. Mesmo que o luso-brasileiro recupere e esteja apto para participar na competição, denotará certamente falta de ritmo, sendo sempre um elevado risco a sua inclusão no onze. Talvez por isso tenham sido chamados mais 5 defesas centrais, número completamente absurdo, mesmo sabendo que um deles deverá deixar a convocatória.

A posição de defesa central é uma das mais específicas do Futebol e entre outros aspectos determinantes, requer um forte entrosamento entre os jogadores que ocupem essa posição. Talvez por isso, Humberto Coelho no Euro'2000 e Scolari no Mundial'2006 apenas chamaram 3 jogadores para a posição, número que se viria a revelar mais que suficiente em ambas as campanhas. 4 é o número mais lógico, 5 é um exagero, mas se atendermos às características dos centrocampistas eleitos, onde apenas Deco apresenta inegáveis qualidades ofensivas, concluo que a táctica de Queiroz deverá passar pela retranca pura e dura seguindo muito provavelmente as linhas mestras do outro treinador português actualmente na berra...

Os nomes de Ricardo Costa e José Castro são surpresas totais. Quase ninguém apostaria na chamada dos dois centrais, ainda relativamente jovens, que passaram grande parte da temporada no banco de suplentes das respectivas equipas, sem esquecer que o primeiro foi sempre um jogador sobrevalorizado e pouco ou nada tem feito de relevante na sua carreira.

Ainda mais estranha é a chamada de Daniel Fernandes, guardião do modesto Iraklis da Grécia. Arrisco-me a afirmar que cerca de 95% dos adeptos de futebol em Portugal nunca tinham ouvido falar deste tipo. Pessoalmente, recordo-me de algumas das suas actuações na selecção de sub-21 e, para além da sua elevada estatura, pareceu-me um guarda-redes perfeitamente banal. O facto de Quim, campeão nacional e autor de excelente temporada, ter sido preterido em favor do grego deixa-me simplesmente perplexo...

A outra grande injustiça é a ausência de Rúben Amorim, jogador maduro, centrocampista completo e capaz de alinhar com grande desenvoltura na lateral direita onde é com toda a certeza muito superior ao rudimentar Paulo Ferreira, um tipo que, sempre sem jogar nada de especial, tem caído nas boas graças dos treinadores. Com um dos melhores empregos a nível mundial, visto que é pago principescamente para assistir aos jogos do Chelsea na tribuna VIP ou no banco de suplentes do Stamford Bridge, não consigo esquecer as suas actuações desastrosas no Euro'2008...

Finalmente, as ausências de Carlos Martins e Nuno Gomes - aliadas às dos citados Quim e Rubén Amorim, salvou-se Fábio Coentrão - sugerem-me um feroz anti-benfiquismo por parte de Queiroz, algo muito em voga ultimamente no país. O médio, reconhecido pela sua versatilidade e potência de remate, seria a única alternativa a Deco ao passo que o avançado, pela sua enorme experiência e características distintas relativamente às de Liedson e de Hugo Almeida seria sempre nome a considerar, embora Danny não deixe de ser um jogador interessante e acabe por perceber a lógica da sua chamada. Carlos Martins acabou por pagar a factura do 5º central, analogia que pode também ser feita a João Moutinho, embora aqui esteja de acordo com Queiroz já que o capitão do Sporting tem estagnado o seu jogo nos últimos tempos.

quarta-feira, maio 05, 2010

RISE UP!


Em 1872,
Eça de Queiroz escreveu o seguinte nas crónicas As Farpas: "...Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito.
Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá... vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".

Passados 138 anos, constata-se que Eça foi um visionário, prevendo com bastante antecedência o caos que alastra actualmente por terras helénicas e que, pelos vistos, não tardará a atingir o pequeno rectângulo na ponta ocidental da Europa.

Têm-se generalizado, um pouco por toda a parte, os comentários depreciativos e insultuosos para com o povo grego, em virtude de Portugal lhes emprestar cerca de 2 mil milhões de euros. Começando por "mandriões" e "calões", passando por "preguiçosos" e "estroinas" e terminando em "vândalos" e "arruaceiros", são estes os adjectivos simpáticos com que o típico labrego tuga classifica o povo grego.

Provavelmente não saberão que os gregos irão receber (ainda) menores salários e pagar 23% de IVA, entre outras fortes medidas de austeridade impostas pelo seu Governo, como moeda de troca para desbloquear a ajuda financeira europeia. Não lhes convém lembrar que o povo grego chegou a este estado caótico devido a terem sofrido na pele a incompetência de políticos corruptos durante décadas. E esquecer-se-ão certamente que Portugal é o próximo parente pobre europeu com a mão estendida. Afinal de contas, um dos pilares fundamentais da magnífica UE é a solidariedade entre os povos que dela fazem parte...

Não me querendo comparar a Eça, longe disso, escrevi há cerca de ano e meio um texto intitulado O rastilho onde verificava existirem muitos paralelismos negativos entre Portugal e a Grécia. Infelizmente, não me enganei por muito, embora perca nitidamente para o Eça por cerca de 136 anos...

Para terminar deixo-vos uma imagem de esperança, tirada ontem da Acrópole de Atenas, onde os camaradas do Partido Comunista Grego (KKE), organizaram uma manifestação, lançando um apelo aos povos da Europa para se erguerem contra o capitalismo selvagem e o neo-liberalismo, os causadores de toda esta imensa crise.


segunda-feira, maio 03, 2010

A (inevitável) 'belenensização' do Sporting


As ruidosas manifestações dos últimos dias trataram de dissipar quaisquer dúvidas que ainda subsistissem sobre qual é o segundo clube com maior número de adeptos em Portugal. É claramente o anti-Benfica, suportado pela (quase) totalidade dos adeptos do FC Porto e pela esmagadora maioria dos torcedores do Sporting.

Tal obsessão ainda é compreensível no caso dos portistas, afinal o Benfica dominou a seu belo prazer o panorama nacional nas décadas de 60 e 70 e rivalizou ombro a ombro com o FCP durante a década de 80 e início da seguinte. Relativamente aos sportinguistas trata-se acima de tudo de tacanhez e inveja por tudo o que vem do outro lado da Segunda Circular. Depois de conseguir estancar um extenso e doloroso processo de belenensização com a conquista dos títulos nacionais de 2000 e 2002, a presença na final da Taça UEFA de 2005 e várias participações consecutivas na Champions League, o Sporting acaba de realizar a pior época desportiva dos últimos onze anos, motivo que seria por demais preocupante e merecedor de ampla reflexão para os seus associados e simpatizantes.

Nas últimas quatro temporadas alcançou outros tantos segundos lugares, motivo de júbilo e contentamento para a generalidade dos seus adeptos, já que ficaram sempre à frente do velho rival, o Benfica, não se preocupando minimamente em criar condições para suplantar o emblema - FC Porto - que venceu 17 dos últimos 26 campeonatos.

Pior que tudo isto é a falta de coerência e objectividade por parte dos actuais dirigentes leoninos que parecem gerir o clube em cima do joelho e ao sabor do vento. Depois de dezoito longos anos (1982-2000) sem conquistar o campeonato, já passam oito desde o último triunfo e não parecem existir condições para travar esta marcha. Desta vez a belenensização do Sporting parece inevitável, com o beneplácito dos seus próprios adeptos que se contentam com o mal do Benfica...

domingo, maio 02, 2010

Títulos entregues de bandeja


Quis o desígnio do calendário que Liverpool e Lazio recebessem hoje Chelsea e Inter na parte final e decisiva dos campeonatos inglês e italiano. Até aí nada de mais, não fosse o facto que caso os líderes da Premiership e da Serie A fossem travados, reds e biancocelesti estariam a dar uma ajuda preciosa aos seus principais rivais, Man Utd e Roma, algo extremamente difícil de digerir para os seus próprios adeptos.

O que se passou em ambos os encontros foi algo de verdadeiramente incrível, quase surreal...

Começando por Anfield Road, não se pode dizer que o Liverpool entregou o jogo aos blues, entrou até melhor na partida com Aquilani a rematar na trave da baliza de Cech. O impensável aconteceu ao minuto 33, com Steven Gerrard a tentar um atraso para Reina, acabando por assistir Drogba, que não desperdiçou tamanho ensejo. Não, não me enganei, foi mesmo o capitão e lenda do Liverpool, um dos melhores jogadores da actualidade e dos últimos anos, a oferecer de bandeja o primeiro golo ao Chelsea.

A partir daí o jogo tornou-se simples para os blues, que assumiram sem grandes sobressaltos o efectivo controlo do mesmo, com Lampard a ampliar a vantagem logo a abrir a segunda metade. Com este triunfo basta ao Chelsea vencer o Wigan em casa na última rodada, algo que se afigura como muito provável. Gerrard e o Liverpool podem assim ficar descansados, pois continuam com 18 títulos, os mesmos do ultra-rival Man Utd...

É-me difícil encontrar adjectivos que classifiquem o ambiente no Olímpico de Roma. Ficaria-me por um simples e eloquente estranho. E porquê? Os adeptos da Lazio puxaram efusivamente pelo Inter, assobiaram ruidosamente o desempenho dos seus próprios jogadores e vaiaram as defesas do seu guardião, o uruguaio Muslera, praticamente o único que se opôs com afinco às investidas do Inter, adiando o primeiro golo até ao último minuto da primeira parte.

A segunda metade pareceu um verdadeiro jogo amigável, jogado no meio-campo a ritmo baixo, digno de se assistir para quem sofre de insónias. Motta acabou por fazer o segundo tento para os nerazzurri, na sequência de um pontapé de canto, confirmando o regresso do Inter à liderança do Calcio.

Acredito que, caso a Atalanta tivesse ganho ao Bolonha, a postura dos adeptos e jogadores da Lazio não tivesse sido esta. O espectro da descida de divisão está praticamente afastado e assim nada melhor do que impedir o arqui-rival citadino de continuar a sonhar com o scudetto. Deplorável e anti-desportiva a atitude dos tifosi da Lazio que não tiveram problema em desfraldar algumas tarjas verdadeiramente inqualificáveis.