segunda-feira, janeiro 24, 2011

Presidenciais à Esquerda

21/01/11 - Comício de Francisco Lopes no Auditório da Universidade do Minho em Guimarães

Infelizmente, confirmou-se em parte aquilo que eu havia previsto no passado mês de Agosto. Francisco Lopes conseguiu apenas segurar o tradicional eleitorado comunista, não alargando as bases sociais de apoio num momento particularmente difícil e de grande descontentamento entre os trabalhadores e desempregados do país. Continuo a pensar que uma candidatura mais abrangente e unitária anti-PEC protagonizada por Carvalho da Silva, sem o PS a atrapalhar e com o apoio do BE, teria todas as condições para alcançar um resultado histórico. Não arrisco afirmar que passaria à 2ª volta, mas daria com toda a certeza garantias de uma maior mobilização, reforçando a luta de massas para as novas batalhas que se avizinham. No entanto, quero destacar a excelente campanha de Francisco Lopes. Empenhado, frontal e coerente nas posições assumidas, foi a única candidatura que se assumiu efectivamente contra a política de direita que nos levou a este abismo, apresentando-se como a única alternativa de ruptura e mudança. 7,1 % e cerca de 300 mil votos são um resultado escasso para uma campanha entusiasmante e bastante participativa. Lopes terá pago o preço de ser um ilustre desconhecido até às vésperas da campanha, não capitalizando o descontentamento de outros sectores da Esquerda que não se reviam na candidatura de Alegre. Destaco ainda que, em tempos de luta e de resistência, o povo sabe que pode contar sempre com o PCP, mas continua a não retribuir eleitoralmente. Temos que continuar a viver com essa ingratidão que anda de mãos dadas com o feroz preconceito anti-comunista, esse enorme pasquim de mentiras e falsidades. A dedicação e a luta do PCP à causa dos trabalhadores e desempregados é imensa, coerente e constante, mas o povo – cada vez mais analfabetizado politicamente, daí o aumento substancial da abstenção e dos votos em candidatos fora do sistema – continua a preferir engolir a cassete anti-comunista servida diariamente em todo o lado, seja ela na televisão, na rádio ou nos jornais.

Louçã e o BE saem como os grandes derrotados destas Presidenciais. O precipitado apoio a Manuel Alegre pode ter sido o canto do cisne duma força política que chega agora a uma encruzilhada. Mantém o espírito revolucionário dos seus militantes de base – trotskistas, maoistas e marxistas - lançando pontes de entendimento e convergência com o PCP ou entra num processo de social-democratização acabando naturalmente por ser engolido pelo PS.

Tinha grandes esperanças na candidatura de Fernando Nobre. É certo que obteve um óptimo resultado, mas foi na minha óptica uma enorme decepção. Discurso populista, demagogo, anti-partidos, sem qualquer ponta de lógica ou coerência. A galinha com uma migalha de pão no bico e o tiro que o impediria de chegar a Belém são das frases mais ridículas que já ouvi em Política. A proposta de redução do número de deputados para 100 é um convite irresestível à bi-polaziração e à falta de representatividade das regiões do Interior. Grande humanista e com uma obra notável com a AMI, Nobre é um tremendo embuste enquanto político e o facto de ter sido invisivelmente apoiado pelo vingativo e rancoroso Mário Soares é de lamentar profundamente.

Factura muito alta pagou Alegre ao ser apoiado pelo PS e BE, sem esquecer o desconcertante apoio do MRPP. Nunca se conseguiu libertar, parecendo excessivamente preso entre duas forças antagónicas. Quando dava ares de resvalar para a Esquerda, perdia o Centro e vice-versa. O resultado dificilmente poderia ser melhor e Sócrates viu-se livre do seu maior adversário dentro da ala esquerda do PS, mas tem poucas razões para se sentir Seguro. António José anda por aí.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pedro, com esta perfeita leitura que fazes mais nada tenho a acrescentar, realçando que felizmente os fiéis comunistas não desistem de contribuir com o seu voto para um Partido que sempre deu a cara pelos trabalhadores e mais desfavorecidos deste País,mas infelizmente o povo Português continua a pensar que é votando no Partido do grande capital que a riqueza deles será distribuída pelos pobres!São pobres duas vezes,pela sua pobre situação socio-económica e a pobre cultura e conhecimento da real situação do País e dos dois partidos que nos (des)governam há quase 37 anos!Bjs.Rosario

João Caniço disse...

Eu diria que são pobres três vezes através da ignorância que não descola da tacanhez do mediano tuga. Enquanto o grande capital lhes continuar a reservar uns míseros tostões para a sua sobrevivência, adicionado com um entretimento televisivo da treta, não há país que mude. Cada vez tenho mais vergonha de ser português...
Beijos