sexta-feira, janeiro 08, 2010

Fracturante... ou talvez não!


Depois de um longo processo, com vários episódios rocambolescos, o parlamento português aprovou finalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, embora sem o reconhecimento do direito à adopção.

Um passo de cada vez. Está dado o primeiro que representa o fim de uma discriminação latente na constituição, marca o avanço social e progressista de Portugal, ao tornar-se no nono país mundial a reconhecer o casamento homossexual, não obstante a tenaz e feroz resistência da direita conservadora, que tentou por todos os meios - sempre com o apoio tácito da retrógrada igreja católica - implodir o avanço civilizacional.

Inicialmente, grunhiam que o assunto não era de particular interesse para o país. Depois, podia avançar desde que não se chamasse casamento! Poderia ter outro nome qualquer, união civil, união de facto, tanto fazia. Casamento é que nem pensar! Já sobre a linha de meta, foram recolhidas quase 100 mil assinaturas com o objectivo de convocar um referendo! Absurdo! Como é possível equacionar-se a realização de uma consulta popular sobre uma questão que é tão somente da consciência e liberdade individual de cada um? Eu tenho alguma coisa a ver se o vizinho da frente quer casar com o homem do talho? Ou se a vizinha do lado quer juntar os trapinhos com a miúda do café?
Notável a evolução de um assunto que, para a direita, não há muito tempo, era de relativa importância, não está nada mal não senhor... Provavelmente, até teriam razão no início. Aqui ao lado, em Espanha, após a entrada em vigor do casamento homossexual em 2005, apenas 1% dos casamentos que se realizaram desde então foi entre pessoas do mesmo sexo, ou seja, estamos perante uma imensa minoria.

Resta agora esperar pela aprovação do projecto-lei por parte do presidente da república. Esperemos bem que não faça uma das suas e exerça o direito de veto. Ou que o diploma seja chumbado pelo tribunal constitucional. Afinal, calha bem a muito boa gente que se continue a falar de uma questão dita fracturante. É impossível esquecer a maneira deplorável como PS e BE lutaram sobre quem é que apresentaria o projecto-lei. Sobre a direita estamos conversados. Sobra o PCP. Fez o seu papel. Aprovou a lei e continua na sua luta fracturante. No terreno, nas fábricas, nos campos, nos sindicatos, sempre pelos direitos dos trabalhadores. Isso é o que distingue verdadeiramente o Partido Comunista Português dos outros. Não alinha em fait-divers, nem em temas catalogados de mediáticos para encher chouriços nas tv's e nos jornais. Os itens seguintes, esses sim, são realmente fracturantes:

- o número recorde de desempregados em Portugal, já bem para cima de meio milhão.
- os mais de dois milhões de portugueses abaixo do limiar da pobreza, muitos na miséria, outros tantos passando fome.
- os muitos milhares de portugueses que recebem o salário mínimo ou pouco mais que isso.
- os milhares de trabalhadores com salários em atraso.
- os milhares de recém-licenciados a recibos verdes...

...a lista seria extensa com toda a certeza. Para quando empenhamento visível na resolução destas questões realmente fracturantes para uma imensa maioria de portugueses?

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