Deve estar a fazer 10 anos. Estava um dia
frio e triste, tipicamente de Outono. Nada melhor para o alegrar do que
oferecer-te um ramo de rosas vermelhas. 24. Nunca soube porque escolhi esse
número, acho que foi o primeiro em que pensei. Pareceu-me bem. Redondo. Como
eu era ingénuo e apaixonado. Pensei que iríamos viver felizes para sempre
depois desse momento especial. Foi-o de facto, pelo menos por breves instantes.
E certamente inesquecível.
Cheguei primeiro ao nosso sítio. O nosso
banco, no nosso jardim. Tremia ligeiramente e não era apenas do frio. Estava
nervoso. Mal podia esperar para que chegasses. E passado pouco tempo lá
surgiste ao fundo. Não disfarcei o sobressalto, mas tentei esconder o ramo,
colocado estrategicamente a meu lado para poder sentir a tua reacção o mais
próximo possível quando te deparasses com a surpresa. A tal surpresa que
anunciei desajeitadamente por mensagem e te fazia apressar o passo. Apesar da
ansiedade que te recortava o rosto, trazias igualmente o sorriso pelo qual me
enamorei. Trémulo, mas estava lá. E quando a surpresa deixou de o ser, a tua
pálida face abriu-se num enorme e belo sorriso que me fez disparar a pulsação
vertiginosamente. Por momentos julguei ter conseguido, mas a felicidade foi
momentânea. O choro compulsivo que atravessou a perfeição revelou-me de
imediato que seria impossível. Nunca acreditei no destino, mas nesse momento
tive a terrível sensação que nada mais por nós havia a fazer. Estava escrito
algures que os nossos caminhos se cruzavam apenas por algum tempo. Mais tarde
ou mais cedo uma qualquer encruzilhada confirmaria o inevitável. Apesar disso
não desisti. Lutei muito e durante muito tempo contra isso. Recusava-me
terminantemente a aceitar. O silêncio corrói, sufoca e sinto que é altura de o
desmascarar.
Tentei dar-te os parabéns pelo noivado.
Não consegui. Tentei desejar-te as maiores felicidades pelo casamento, mas
ainda foi pior a emenda que o soneto. Algo mais forte o impedia. Talvez a
teimosia. A simples ideia de te perder para sempre era demasiado
aterradora. E continuei na zona de conforto à qual chamo silêncio. Parece um
paradoxo classificar o silêncio como corrosivo, sufocante e confortável ao
mesmo tempo. No entanto, é apenas e somente caracterizado por possuir várias faces, distintas ou não entre si. Tal e qual como o teu sorriso extasiante ao qual se adicionaram
lágrimas. Lágrimas de impotência, presumo. Continuo a acreditar e a sentir que
assim seriam. E só quando percebi o funcionamento do silêncio concluí que já te
tinha perdido há muito tempo. 10 anos para ser exacto. Naquela tarde fria de
Outono, naquele banco de jardim.
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