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sábado, abril 12, 2008

Itália: Futebol & Política (Parte II)

A Lazio de Roma é conhecida em Itália como tendo uma das claques mais racistas e xenófobas do Calcio. Os Irriducibili, os seus ultras mais fanáticos, exibem bandeiras negras com o rosto de Mussolini, símbolos nazis e fascistas (suásticas e cruzes celtas), cantam Facetta Nera e gritam furiosamente DUCE! DUCE! relembrando o passado sombrio da ditadura de Mussolini.
Paolo Di Canio é natural de Roma e começou a sua carreira de futebolista nas camadas jovens da Lazio, equipa da qual é desde sempre adepto confesso pertencendo em jovem à claque dos Irriducibili. Jogou na equipa principal da Lazio de 1987 a 1990, passando depois por vários clubes italianos e britânicos até regressar à Lazio em 2004, saindo em 2006 para uma modesta equipa da capital italiana, o Cisco Roma, onde ainda joga e se prevê que termine a carreira no final desta temporada, ele que já conta 39 anos.
Foi em terras britânicas que Di Canio conseguiu as suas melhores temporadas ao serviço do Celtic, Sheffield Wednesday e West Ham. Conseguiu antagonicamente ser suspenso por 11 jogos depois de empurrar furiosamente um árbitro em 1998 e receber o Prémio FIFA Fair Play 2001 ao não ter marcado um golo fácil porque o guarda redes adversário estava no chão lesionado.
Di Canio possui uma tatuagem do Duce Mussolini no braço e escandalizou o mundo do futebol ao fazer a saudação nazi após ter apontado um golo no derby contra a Roma em 2004, gesto que seria repetido em 2005 contra o Livorno, jogo que terminou em verdadeira batalha campal nas proximidades do estádio Olímpico entre adeptos das duas claques rivais.
Di Canio fui multado e condenado publicamente por essas atitudes, embora tenha ouvido algumas vozes de apoio entre as quais a do antigo primeiro ministro e presidente do Milan, Silvio Berlusconi, que descreveu Di Canio como um 'bravo ragazzo'...

Em 2001 Thuram, defesa central francês, na altura no Parma, esteve a um passo de assinar pela Lazio, mas receoso das possíveis atitudes para com ele dos racistas tiffosi laziale em virtude da cor negra da sua pele preferiu ir para a Juventus.

O Hellas Verona foi campeão italiano em 1985, mas actualmente agoniza na Série C1 (3ª divisão do Calcio) e tem a claque mais racista e fascista de Itália, as Brigate Gialloblù, que além de inúmeros episódios e manifestações semelhantes às dos Irriducibili impediu há pouco tempo o presidente do clube de contratar um jogador judeu...

O AC Milan pode-se definir como o clube de simpatia das classes sociais mais humildes da cidade de Milão em contraste com o clube da elite que é o rival Inter, em tal ordem de ideias é um pouco para não dizer demasiado estranho que o presidente do Milan é há mais de 20 anos Silvio Berlusconi, magnata da televisão, ex primeiro ministro e actual candidato ao mesmo lugar e envolvido em inúmeros escândalos de corrupção...

No maior clube de Itália, a Juventus, tem-se assistido a uma passagem progressiva das suas principais claques de apoio da esquerda para a direita o que contrasta fortemente com a base de apoio do clube e a própria história do emblema ligada umbilicalmente à FIAT e à vinda de inúmeros operários de todas as regiões de Itália para Turim tornando a Juve com o passar dos anos o clube com o maior número de adeptos no país em larga escala.

Amanhã e 2ª feira vão decorrer em Itália eleições legislativas antecipadas onde os principais candidatos a primeiro ministro são o já citado Berlusconi representante da direita e Walter Veltroni líder da coligação de centro-esquerda, antigo presidente da Câmara de Roma e tiffoso da Juventus. A 3ª força política é a coligação Sinistra Arcobaleno (Esquerda Arco-Íris) que engloba o Partito della Rifondazione Comunista, Sinistra Democratica, Partito dei Comunisti Italiani e Federazione dei Verdi, coligação pela qual fico a torcer por um bom resultado.

segunda-feira, abril 07, 2008

Itália: Futebol & Política (Parte I)

Livorno é uma cidade costeira da região da Toscana, situada a cerca de 80 km de Florença e conta com 160 mil habitantes aproximadamente. É conhecida, entre outras, por ter sido lá em 1921 que Amadeo Bordiga e Antonio Gramsci fundaram o Partido Comunista Italiano e pelo seu clube de futebol mais representativo, a Associazione Sportiva Livorno Calcio.
A esmagadora maioria dos tiffosi do Livorno partilham da ideologia comunista e em 1999 foi formada a claque Brigate Autonome Livornesi com base nesses mesmos ideais e princípios. Durante os jogos do Livorno, os tiffosi cantam o hino de resistência italiana durante a 2ª Guerra Mundial, a Bella Ciao, e o hino comunista italiano Bandiera Rossa, agitam bandeiras vermelhas com a foice e o martelo juntamente com algumas de Cuba e estandartes com imagens de Che Guevara.
Cristiano Lucarelli é um dos filhos mais ilustres da terra, começou a carreira de futebolista no Peruggia em 1993 tendo passado por vários clubes entre os quais o Valência e o Torino até chegar no Verão de 2003 ao Livorno e cumprir assim o seu maior sonho desportivo, representar o emblema da sua cidade. Nessa época de estreia apontou 29 golos, decisivos para o clube amaranto garantir a subida à Série A, 55 anos depois. Lucarelli, tinha metade do seu passe em poder do Torino e rejeitou 1 milhão de euros do emblema granata, decidindo ficar a representar a equipa da sua cidade e coração.
Lucarelli declarou-se desde sempre comunista por vocação e nascimento, é apoiante do Partito della Rifondiazione Comunista, fundado em 1991 após a extinção do PCI. Durante a sua passagem pelo Livorno usou a maglia número 99 em homenagem ao ano de fundação da claque Brigate Autonome Livornesi e comemorando sempre os golos com o punho direito erguido e fechado, a típica saudação comunista, não estranhando por isso que seja o grande ídolo dos adeptos amaranti. Em 2005 sagrou-se o melhor marcador da Série A com 24 golos, decisivos para voltar a representar a selecção italiana, já que não o fazia desde 1997, quando no decorrer duma partida dos Sub-21 contra a Moldávia disputada no Estádio Armando Picchi, em Livorno, Lucarelli apontou um golo e correu para os tiffosi despindo a maglia azzurra mostrando efusivamente uma camisola estampada com a imagem de Che. Lucarelli foi multado e não voltaria a representar mais a selecção sub-21 depois desse episódio...
No Verão de 2005, o presidente do Livorno, Aldo Spinelli aceita uma proposta do Tottenham pela compra do seu passe, mas Lucarelli rejeita e continua no Livorno, mas a sua relação com o presidente deteriora-se, acabando por sair para os ucranianos do Shakthar Donetsk em 2007, não sem antes ter ajudado a qualificar e a disputar uma competição europeia pela primeira vez na história do Livorno, a Taça UEFA.
Não se adaptou à Ucrânia e regressou em Janeiro de 2008 a Itália, mas ao Parma. Se os adeptos já tinham ficado desgostosos com a sua saída em 2007, pior ficaram com o seu ingresso noutro clube italiano, não sendo de estranhar a dura recepção por parte dos seus outrora devotos tiffosi, no seu regresso ao Armando Picchi em Março passado com a camisola do Parma.
Apesar disso, Lucarelli continua a declarar profundamente o seu amor ao Livorno, clube e cidade. Uma das frases mais sintomáticas disso mesmo proferidas pelo próprio é: "Existem jogadores que com um milhão de euros comprariam iates e Ferrari's, eu compraria simplesmente a camisola do Livorno"...

Outras claques fortemente conotadas com a esquerda e/ou extrema esquerda em Itália são as Brigate Nerazzurre (Atalanta), Ottavio Barbieri (Génova), Fossa dei Leoni (Milan) e os Ultras Granata (Torino).