quinta-feira, setembro 04, 2008

A Carvalhesa

Em Março de 1985 a Comissão Política do Comité Central do PCP criou um grupo de trabalho com o objectivo de se tentar criar um tema musical para a campanha eleitoral para as eleições legislativas desse ano e que desse identidade sonora às diversas manifestações, desde os carros de som até aos indicativos de tempos de antena.
A primeira ideia dessa equipa foi a de encontrar um tema de música tradicional portuguesa a que se pudesse dar um tratamento instrumental no estilo do que entretanto se começara a chamar Música Popular Portuguesa. Vivia-se então um momento de grande criatividade em termos de música popular, na linha de Zeca Afonso e Sérgio Godinho, dos Trovante, de Júlio Pereira, de Fausto tinham criado uma sonoridade tão nova quanto portuguesa e que conseguia um resultado inteiramente surpreendente: conquistava público em todo o País e em todas as áreas culturais.
Passou-se então à consulta do livro Cancioneiro Popular Português de Michel Giacometti (Círculo de Leitores. Lisboa, 1981). Piano em frente, lá se foi procurando e, uma semana decorrida, pelas três da manhã, a Carvalhesa deve ter soado pela primeira vez fora de Trás-os-Montes, de onde é natural. Em Julho desse ano gravou-se a primeira versão e editou-se um maxi-single de vinyl.

A Carvalhesa foi recolhida pela primeira vez em Tuiselo, aldeia perto de Vinhais (Bragança), em 1932 por Kurt Schindler, maestro alemão que realizou notável trabalho de investigação etnográfica em Espanha e Portugal por essa altura. Giacometti havia recolhido em 1970 uma outra, a que os seus executantes populares atribuíam o mesmo nome, mas inteiramente diferente.
O facto não é estranho. Como se afirma nas notas do Cancioneiro, “a CarvaIhesa, dança de quatro laços, era, com a 'Murinheira' e o 'Passeado', o baile preferido da região. O instrumento tradicional a acompanhar estas danças era a gaita de foles”. Ou seja, a Carvalhesa é essencialmente uma dança, para a qual se conhecem duas melodias, mas que poderá mesmo ter sido dançada com outras entretanto perdidas. Face às duas versões, Giacometti entendeu ser mais interessante a recolhida pelo maestro alemão. E, página 217 do “Cancioneiro, tema 166, lá ficaria a 'Carvalhesa'” recolhida por Kurt Schindler.
O arranjo da Carvalhesa gravado em 1985 acompanhou a actividade política do PCP em sucessivas campanhas eleitorais, na Festa do Avante!, cujos palcos sempre abre e encerra e dos quais se tornou verdadeiramente emblemática.

Ruben de Carvalho (adaptado)

A Festa do Avante! tem lugar no próximo fim de semana, infelizmente não devo conseguir estar presente, por isso aqui fica a história da origem da Carvalhesa, a música emblemática da festa e um vídeo promocional da mesma com a melodia tão especial e querida por todos os quantos passam pela Quinta da Atalaia no primeiro fim de semana de cada Setembro...


4 comentários:

Menina Ochoa disse...

Por acaso não conhecia a história da Carvalhesa... Interessante =)

João Caniço disse...

Pois é Dreama, arrisco-me a dizer que pouca gente conhece a história da Carvalhesa, ainda bem que achaste interessante =)

Anónimo disse...

No entanto, Lopes-Graça compõe em 1979 "Melodias Rústicas Portuguesas" IV caderno para flauta e guitarra! A terceira melodia, é a Carvalhesa.

João Caniço disse...

Obrigado pela correcção, caro Marco Pereira. Esse facto era-me completamente desconhecido. Como especifiquei no post, adaptei um texto de Rúben de Carvalho sobre a origem da 'Carvalhesa'.
Cumprimentos.