sexta-feira, setembro 26, 2008

6+5

A FIFA aprovou no seu último congresso, realizado em Maio passado, a regra do 6+5, em que cada equipa de futebol tem obrigatoriamente que apresentar no seu onze 6 jogadores elegíveis de representar a selecção nacional do país da qual essa equipa é oriunda, logo apenas 5 jogadores estrangeiros podem estar em campo, não interessando se são comunitários ou não.
A ideia é colocar a medida em prática o mais rápido possível, mas a FIFA tem enfrentado uma feroz oposição por parte dos clubes mais ricos e poderosos da Europa e da própria União Europeia, que invocando as suas leis bacocas insurge-se contra a livre circulação de trabalhadores no espaço europeu. Uma tremenda estupidez na minha opinião mediante a especificidade da profissão de futebolista. Os emblemas poderosos e milionários têm grande facilidade em contratar os talentos por esse mundo fora e como é óbvio não querem deixar de ter limite para essas aquisições.
O limite de 5 estrangeiros por equipa faz parte de um projecto da FIFA que tem como objectivo descentralizar o poder das principais ligas de futebol do planeta e fortalecer as selecções nacionais. Também com esse intuito, a entidade já colocou em vigor na Europa a regra dos home-grown players, que propõe um mínimo de jogadores formados pelas equipas nos respectivos plantéis principais. Entretanto, a UEFA aplicou esta época nas provas europeias a regra que prevê que 8 dos 25 jogadores inscritos de cada equipa devem ser formados nesse país, mas nada refere sobre as nacionalidades desses jogadores...

Sou totalmente a favor desta regra do 6+5, penso que era um grande benefício para o futebol, para a identidade das equipas e das selecções nacionais. Considero-me um saudosista das equipas formadas por apenas 3 estrangeiros, sistema desfeito com a entrada em vigor da lei Bosman em meados da década de 90. Até essa altura era perfeitamente possível formações como o Estrela Vermelha de Belgrado ou o Steaua Bucareste vencerem a Champions, devido à qualidade dos seus jogadores nacionais. Hoje em dia é praticamente impossível visto que os novos talentos são imediatamente pescados pelas equipas das principais ligas europeias.
Com um mundo globalizado é utópico pensar-se numa retoma desses tempos, embora ache que a regra do 6+5 deve ser aplicada o quanto antes!
Apenas por curiosidade pesquisei as nacionalidades dos jogadores mais importantes e utilizados nas principais equipas europeias. Devido ao turn-over existente nessas formações escolhi 14 jogadores por equipa e não 11: 1 guarda-redes, 5 defesas, 5 médios e 3 avançados. Realço ainda que é uma leitura pessoal, provavelmente se outra pessoa efectuar a mesma pesquisa escolherá alguns jogadores diferentes, embora não acredite que os resultados variem significativamente.

Arsenal (1): Walcott
Atl. Madrid (4): Pablo Ibáñez, Antonio López, Raúl Garcia e Luis Garcia
Barcelona (5): Víctor Valdez, Puyol, Xavi, Iniesta e Bojan
Bayern (6): Rensing, Lell, Lahm, Schweinsteiger, Klose e Podolski
Benfica (3): Quim, Carlos Martins e Nuno Gomes
Chelsea (4): Terry, Ashley Cole, Lampard e Joe Cole
Inter (2): Materazzi e Balotelli
Juventus (8): Buffon, Legrottaglie, Chiellini, De Ceglie, Zanetti, Camoranesi, Del Piero e Iaquinta
Liverpool (3): Carragher, Gerrard e Robbie Keane*
Lyon (9): Lloris, Réveillère, Boumsong, Clerc, Toulalan, Govou, Bodmer, Benzema e Piquionne
Man Utd (8): Neville, Ferdinand, Brown, Hargreaves, Giggs#, Carrick, Scholes e Rooney
Milan (7): Abbiati, Bonera, Nesta, Zambrotta, Gattuso, Ambrosini e Pirlo
Porto (3): Bruno Alves, Rolando e Raúl Meireles
Real Madrid (5): Casillas, Sérgio Ramos, Guti, de la Red e Raúl
Roma (6): Panucci, Cassetti, De Rossi, Aquilani, Perrotta e Totti
Sporting (8): Rui Patrício, Abel, Tonel, Caneira, Miguel Veloso, João Moutinho, Yannick e Postiga
Zenit (8): Malafeev, Anyukov, Shirokov, Denisov, Zyryanov, Radimov, Arshavin e Pogrenbyak.

Através desta análise comprova-se que a grande maioria dos principais clubes europeus terá que repensar seriamente a sua política de contratações caso a regra entre em vigor. Inter e Arsenal estão no topo dessa lista e destaco que Walcott apenas esta temporada começou a ser aposta efectiva de Wenger enquanto o promissor Balotelli, lançado aos poucos por Mancini e agora por Mourinho, faz parte da lista com muito boa vontade da minha parte...

Nota: * e # significam jogadores de nacionalidade irlandesa e galesa respectivamente. Não contam como estrangeiros nas competições inglesas.

6 comentários:

Unknown disse...

Enquanto o Wenger lá estiver, o Arsenal vai dar sempre preferência à contratação de estrangeiros (franceses!!), embora tenha nas suas camadas jovens, muitos britânicos, não apenas ingleses, que poderão num espaço de 2 ou 3anos aparecer na equipa principal.
Resta-me dizer que sou a favor dessa medida, só que isso vai fazer com que muitos jogadores nascidos num determinado país, representem selecções de outras países. Penso que vão haver muitas naturalizações devido a essa lei.
Beijinho

João Caniço disse...

Toupeirinha, não creio que o aumento das naturalizações tenha directamente a ver com a implementação desta medida, visto que hoje em dia já se verificam imensas naturalizações sem ela estar em vigor. Basta olhar para o recente Europeu e contar quantas selecções não tinham jogadores naturalizados...
Quanto ao Arsenal e em especial ao Wenger, não concordo minimamente com a planificação que faz da sua equipa. Pode ter muitos jogadores ingleses nas categorias de base, mas chegados a séniores são logo 'despachados' para outras equipas... O próprio Walcott foi adquirido ao Southampton, nem é produto das camadas jovens dos 'gunners'...
Para mim o cúmulo da incoerência foi quando Wenger defendeu um seleccionador de nacionalidade inglesa para a equipa de Inglaterra... Se todos os técnicos das restantes equipas inglesas fizessem como ele daqui a pouco Inglaterra não tinha jogadores para alinharem na selecção nacional...
Beijinho

Anónimo disse...

Também sou a favor dessa medida e acho que ela deveria entrar em vigor o quanto antes.

Casos como a Inter, que várias vezes já comentamos e um escândalo. A o Arsenal vai pelo mesmo caminho.

Para o bem das seleções nacionais e para um maior equilíbrio nas ligas, que essa regra comece a valer desde já.

Abraços,

Michel Costa disse...

JP,
Mesmo levando em conta que a aplicação do '6+5' na Europa é altamente favorável ao futebol brasileiro (e a todos mercados menos endinheirados), não acredito que essa mudança vá ocorrer.
Penso assim por duas razões: Primeiro porque esbarra nos próprios legisladores europeus que nunca se mostraram dispostos a alterar suas leis para beneficiar o futebol. Segundo porque esbarra no poder político dos grandes clubes europeus que temem perder sua força, arriscando uma rentável supremacia.
Sou favorável ao '6+5', mas acho muito difícil sua implantação.
Abraços!

João Caniço disse...

É verdade Cyntia, ainda há pouco o Materazzi foi substituído e nem um italiano ficou em campo no lado do Inter...
Esperemos que sim, que esta regra entre em vigor o quanto antes!
Abraços

João Caniço disse...

Pois é Michel, realmente essas são as duas grandes razões que podem impedir o '6+5' de ser implementado, tal como eu já tinha focado no post.
Não sou grande simpatizante do Sepp Blater, mas o tipo diz que vai levar esta luta da FIFA até ao fim, contra tudo e todos, leia-se UE e clubes poderosos, vamos a ver no que dá...
Abraços