quinta-feira, outubro 16, 2008

Adeus África do Sul?

Portugal não estará já afastado da fase final do Mundial 2010, mas voltou ontem a comprometer e de que maneira a sua quinta participação na maior competição futebolística à escala planetária ao empatar em casa a zero com a Albânia, 82ª selecção no ranking da FIFA e uma das mais frágeis da Europa, que actuou mais de 50 minutos com dez elementos. A exibição da selecção nacional foi simplesmente confrangedora, total ausência de jogo e espírito colectivo, foi apenas um rol de individualidades que se juntaram, jogando cada um para si mesmo...

O individualismo e a sobrevalorização
Nani é um caso desconcertante, autêntica nulidade, em especial na partida frente à Suécia. Agarra-se em demasia à bola, os seus lances passam quase sempre pelo recurso ao drible e invariavelmente acaba por ser desarmado cortando inúmeros lances de ataque. Quaresma também entrou pelo mesmo esquema na Suécia, mas salvou a pele ao arrancar algumas boas jogadas e cruzamentos nos minutos finais contra os albaneses.
Caso paradigmático de sobrevalorização é o de Raul Meireles, realizou 180 minutos deprimentes nesta dupla jornada, completamente desastrado no capítulo do passe frente a Suécia e ontem nem se deu por ele em campo tal a frouxidão da sua exibição. Não consigo perceber como é que Queiroz escala um jogador com esta (falta de) qualidade e pior que isso, mantêm-no integralmente em campo. Para mim tais actuações não são surpresa já que nos jogos grandes e na selecção nunca rende nada, sou da opinião que só joga bem frente a adversários modestos tipo Paços de Ferreira ou Rio Ave...

Saudades de Pauleta...
Portugal continua a revelar uma ineficácia tremenda no capítulo da finalização. Hugo Almeida não convence ninguém, é um jogador lento, pesado, tosco, não sabe jogar de costas para a baliza, não faz tabelas, não marca golos, enfim... É verdade que não temos um ponta de lança de nível europeu, mas também não é menos verdade (canso-me de o repetir...) que Nuno Gomes, apesar de estar longe de ser um exímio finalizador, é o jogador que melhor se encaixa no perfil de nº 9 na nossa selecção, devido à sua extrema inteligência, capacidade de jogar ao primeiro toque, efectuar tabelas e arranjar espaços vazios para ele e para os médios vindo de trás.
É caso para dizer: que saudades de Pauleta! Era nestes encontros contra equipas mais frágeis que o açoriano marcava sempre pelo menos um golo, sendo por isso completamente decisivo nas nossas fases de qualificação...

Os equívocos de Queiroz
Se a colocação de Meira e Hugo Almeida frente à Suécia se revelou extremamente acertada devido ao fortíssimo jogo aéreo dos suecos, a equipa escolhida por Queiroz para defrontar os albaneses esteve longe de ser a melhor. Não entendo qual foi o objectivo de colocar três centrocampistas de características semelhantes, que ocupam os mesmos espaços e muitas das vezes tornaram ainda mais confuso e lento o nosso jogo.
Devido à lesão de Bosingwa, Miguel foi titular na lateral direita. O jogador do Valência é uma sombra do excelente lateral de até há 2-3 anos atrás, lento, pesado, perdeu grande parte da velocidade que o notabilizou...
Com a expulsão de um jogador albanês pouco antes do intervalo, Queiroz tinha como obrigação colocar de imediato Nuno Gomes em campo para criar superioridade numérica na defesa adversária. É totalmente incompreensível tê-lo colocado em campo a pouco mais de 10 minutos do fim, ainda a tempo de oferecer de bandeja o golo a Nani, que na cara do guarda-redes e com este já no chão, rematou contra o seu corpo...

Ausências de peso
Com o abandono de Figo após o Mundial 2006 a selecção perdeu a última grande referência da geração de ouro e líder. Desde aí é notória alguma falta de liderança dentro de campo. Curiosamente, os jogadores com maior perfil de líder estiveram ausentes deste jogo devido a lesão, Ricardo Carvalho, Maniche, Deco e Simão. Em termos puramente técnicos se a ausência do central não foi notada graças às excelentes actuações de Pepe e à eficácia de Bruno Alves, as dos restantes três atletas foi bastante sentida. Maniche, Deco e Simão são jogadores extremamente experientes, começaram em grande nível esta temporada e as suas baixas enfranqueceram e de que maneira o meio campo luso...

As contas...
Falta a Portugal disputar 6 jogos, equivalente a 18 pontos ainda em jogo, portanto no máximo será atingida a cota de 23 pontos, marca difícil para vencer o grupo, mas que em princípio assegurará o 2º posto e a presença no play-off. Para isso Portugal terá que jogar novamente com os quatro adversários que já defrontou e com a Hungria em jornada dupla. O calendário não se afigura nada favorável, a Suécia e a Dinamarca estão muito bem lançadas na qualificação, a própria Hungria, apesar de estar a léguas da lendária equipa da década de 50 tem demonstrado uma evolução significativa nos últimos anos e terá que ser levada bastante em consideração. Malta e Albânia estão aí para dificultar a vida, em especial na deslocação a Tirana...
Afigura-se assim muito complicado o trabalho de Queiroz, que por certo já se terá pelo menos questionado se não teria sido melhor ter ficado em Manchester em vez de ter vindo treinar primadonna's e meninos mimados...

3 comentários:

Anónimo disse...

Xiii, JP, vejo que pelo visto a situação de Portugal está crítica. Desejo boa sorte os próximos jogos.

Abraços e ótimo fim de semana

Michel Costa disse...

JP,

É possível dizer que o trabalho de Queiroz vem se mostrando inferior ao de Scolari?

Abraços

João Caniço disse...

Cyntia, muito obrigado, mas vai ser preciso muito mais do que apenas sorte, vão ser 6 autênticas finais...

Michel, analisando somente os resultados é com toda a lógica que respondo afirmativamente à tua questão, embora pense que a grande culpa destes maus resultados caibam na sua essência aos jogadores... Afinal, Queiroz não mudou o esquema táctico nem o lote de atletas seleccionados, a atitude dos jogadores é que está pouco humilde, pouco solidária e pouca vontade em dar tudo pelo seu país...

Abraços