quarta-feira, maio 05, 2010

RISE UP!


Em 1872,
Eça de Queiroz escreveu o seguinte nas crónicas As Farpas: "...Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito.
Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá... vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".

Passados 138 anos, constata-se que Eça foi um visionário, prevendo com bastante antecedência o caos que alastra actualmente por terras helénicas e que, pelos vistos, não tardará a atingir o pequeno rectângulo na ponta ocidental da Europa.

Têm-se generalizado, um pouco por toda a parte, os comentários depreciativos e insultuosos para com o povo grego, em virtude de Portugal lhes emprestar cerca de 2 mil milhões de euros. Começando por "mandriões" e "calões", passando por "preguiçosos" e "estroinas" e terminando em "vândalos" e "arruaceiros", são estes os adjectivos simpáticos com que o típico labrego tuga classifica o povo grego.

Provavelmente não saberão que os gregos irão receber (ainda) menores salários e pagar 23% de IVA, entre outras fortes medidas de austeridade impostas pelo seu Governo, como moeda de troca para desbloquear a ajuda financeira europeia. Não lhes convém lembrar que o povo grego chegou a este estado caótico devido a terem sofrido na pele a incompetência de políticos corruptos durante décadas. E esquecer-se-ão certamente que Portugal é o próximo parente pobre europeu com a mão estendida. Afinal de contas, um dos pilares fundamentais da magnífica UE é a solidariedade entre os povos que dela fazem parte...

Não me querendo comparar a Eça, longe disso, escrevi há cerca de ano e meio um texto intitulado O rastilho onde verificava existirem muitos paralelismos negativos entre Portugal e a Grécia. Infelizmente, não me enganei por muito, embora perca nitidamente para o Eça por cerca de 136 anos...

Para terminar deixo-vos uma imagem de esperança, tirada ontem da Acrópole de Atenas, onde os camaradas do Partido Comunista Grego (KKE), organizaram uma manifestação, lançando um apelo aos povos da Europa para se erguerem contra o capitalismo selvagem e o neo-liberalismo, os causadores de toda esta imensa crise.


2 comentários:

Anónimo disse...

Pedro, mais uma vez parabéns pela tua crónica! e também ao Eça de Queirós,o meu escritor preferido desde os 13 anos de idade,quando li os Maias e O crime do Padre Amaro.Era de facto um visionário e um crítico da época,também o nosso País na altura,em crise, decadência e os valores a baixarem à estaca zero.Mas a mudança não pode ser feita sem a vontade do Povo,este é soberano,e já se avizinha e se vê o próximo
1º.Ministro de Portugal,é fácil de ver quem é (Passos Coelho),é vira o disco e toca o mesmo.E não vamos a lado nenhum enquanto este Povo continuar a gostar de viver de subsídios,não tem estímulo para inovar e trabalhar, prefere viver de esmolas, e o governo assim tem sempre as pessoas na mão.Não culpemos só os governantes,são desonestos,são oportunistas, e servem-se dos menos capacitados(povo em geral)para atingirem os seus objectivos e dos amigos.É urgente um choque grande a toda a sociedade e se... a fome apertar...então temos Povo para virar a mesa.Vamos esperar para ver, tenho esperança que finalmente estes portugueses abram os olhos e sigam a letra do nosso hino" às armas,às armas, contra os canhões marchar",claro que em sentido figurado é : vamos fazer frente de uma vez por todas a estes políticos (do PS e PSD) que estão no poder há 36 anos e enfrentá-los,correr com eles,como a padeira de Aljubarrota fez aos espanhóis!Se não, vou concluir que nós portugueses já só queremos ouvir Fado(Ana Moura e Cª.),touradas todo o Verão,na televisão e por todas as terras do Ribatejo,a partir de agora e acabam no Outono, e o eterno Futebol.O que escapa é o Futebol, porque o resto está terrivelmente ligado ao Fascismo,as rádios antes 25 de Abril só passavam fado todo o dia,era um enjoo,daí a minha aversão ao fado.Como a esperança é a última a morrer, haja esperança! Grande abraço, Bjs. rosário

João Caniço disse...

Rosário, o Eça de Queirós também é um dos meus escritores favoritos. Acho as suas frases e considerações tremendamente ajustadas à actual realidade.
Quanto ao resto do comentário também estou completamente de acordo, excepto sobre a parte do Fado, muito provavelmente porque não vivi antes do 25 de Abril.
Beijos