quinta-feira, novembro 19, 2009

Afinal, não eram só vândalos e arruaceiros em Zenica...


É absolutamente verdade que a recepção e atitudes dos adeptos bósnios para com a selecção portuguesa estiveram longe de ser respeitáveis, mas também não é menos verdade que o futebol português apresenta tantos telhados de vidro nesta matéria, que devia preocupar-se primeiro que tudo em olhar para o seu próprio umbigo e apenas depois em criticar além-fronteiras.

Não estou a tentar desculpar nem minimizar os lamentáveis incidentes ocorridos durante a estadia da selecção de Portugal em terras balcânicas, apenas que estão envolvidas num determinado contexto histórico e social que convém analisar e perceber.

A Bósnia-Herzegovina é um país recente, saído de uma sangrenta guerra civil há pouco mais de uma década onde foram escamoteados os mais pérfidos ódios éticos e religiosos. Com profundos e graves problemas sociais (cerca de um terço da população activa está no desemprego) acaba por ser normal o ambiente de excitação e algum fanatismo com que alguns adeptos tenham encarado o confronto com Portugal. Estava em causa uma possível presença na fase final de um Campeonato do Mundo de Futebol, algo inédito num país sedento de glória e afirmação internacionais.

Quantas vezes já assistimos a equipas portuguesas serem insultadas pelos seus próprios adeptos em pleno aeroporto após comprometedoras deslocações europeias? Para não falar da própria selecção nacional no regresso do desastroso Mundial asiático em 2002...
Quem se recorda da monumental assobiadela que o hino da Bélgica sofreu em pleno estádio de Alvalade na fase de qualificação para o Euro'2008? É certo que as declarações do mentecapto guardião belga sobre Cristiano Ronaldo acenderam o rastilho, mas as mesmas não servem como desculpa pois não?
Atirar isqueiros, garrafas e outros objectos contundentes aos árbitros assistentes é o prato do dia por cá... logo, aqueles que se sentiram muito indignados pelos acontecimentos de Zenica não culpem o povo bósnio, tal como fez o comentador da televisão que transmitia o jogo e que se saiu com um xenófobo "esta gente". Culpem sim a FIFA, entidade que superintende o futebol mundial, sempre tão zelosa para umas coisas e que, desta vez, permitiu disputar um jogo decisivo num estádio e campo "relvado" sem as mínimas condições.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pedro concordo em pleno com o que dizes, eles debateram-se muito bem com a nossa selecção e seria um grande triunfo estarem no campeonato do mundo,um Povo muito sofrido pela guerra cruel ainda na memória de todos nós.Pena que a nossa comunicação social tenha dois pesos e duas medidas,senão vejamos o que eles fazem com o português (enjeitado) Cristiano Ronaldo,críticas e mais críticas,chegou a ser assobiado no estádio do Benfica,uma sujeira...Talvez seja tudo dor de cotovelo,acredito que sim.É pena,raramente se vê alguém valorizar ou elogiar o Cristiano,é muito mais valorizado no estrangeiro do que em Portugal.Enfim!Mas voltando ao assunto principal, parabéns à nossa SELECÇÃO e a Carlos Queirós,(também o mal-amado)neste mundo do futebol português. Bjs. R

João Caniço disse...

É verdade, a comunicação social portuguesa prefere denegrir a imagem de dois dos seus melhores profissionais no mundo do desporto do que ser no mínimo isenta na sua análise. Já nem falo em apoiar ou elogiar...
Quanto à maneira como etiquetaram o povo bósnio foi vergonhosa! Parecia que estavam a falar de uns selvagens, como se nós portugueses fossemos muito evoluídos ou cultos...
Beijos