Obrigado, Paulo Bento

Um verdadeiro exemplo de rigor, coerência, honestidade e competência. Em poucas e significativas palavras se destaca o profissionalismo evidenciado por Paulo Bento na sua longa passagem pelo Sporting.
Nove anos de brio e abnegação que merecem todo o meu respeito, admiração e sincero agradecimento pelo muito de positivo que fez no clube.

A demissão era apenas uma questão de tempo, a situação atingiu os píncaros do insustentável durante os vergonhosos protestos ocorridos após o desafio com o Marítimo, patrocinados tacitamente pelas claques, essa autêntica corja que mina, corrói e implode o clube por dentro das suas estruturas. Os sócios e adeptos em geral deixaram-se ir na onda de contestação e hoje, decerto, que muitos estarão arrependidos da atitude irreflectida. Talvez alguns, como eu, se recordarão de como as claques impediram Mourinho de assumir o comando técnico do Sporting no Outono de 2000...

Paulo Bento sabia que partia para esta temporada com um plantel fragilizado, nitidamente inferior ao dos grandes rivais. Sabia que não possuía um único defesa lateral de categoria no plantel. Sabia que os melhores momentos de Polga e Caneira já lá vão, definham condicionados por sucessivas lesões. Sabia que, exceptuando Liedson, não tinha um único avançado com nível na equipa. Sabia que não poderia contar com Izmailov - o jogador mais talentoso e imprevisível - durante a fase inicial da temporada. Sabia que para além do luso-brasileiro e do russo, contava apenas com Miguel Veloso, João Moutinho, Daniel Carriço e Vukcevic como jogadores de créditos firmados no elenco. Sabia que Matias Fernandez era o único reforço propriamente dito para esta temporada.

Apesar de todos estes factores negativos aceitou renovar contrato e continuar ao leme do Sporting, mais com o coração do que com a razão como o próprio admitiu durante a conferência de imprensa de hoje. Posto isto, era previsível uma temporada tão irregular, com resultados e exibições sofríveis que despoletaram toda a enorme contestação em redor da sua pessoa.

O verdadeiro problema do Sporting passa por uma situação financeira deficitária em consequência da má gestão e dos gastos exorbitantes durante boa parte da década de 90 com jogadores que se viriam a revelar autênticos fiascos tais como Tello, Leandro, Gimenez, Kmet ou Carlos Miguel. Aliado a esses terríveis negócios veio a construção do novo estádio de Alvalade e do centro de estágio de Alcochete tornando-se o Sporting um clube dependente dos empréstimos da banca para conseguir sobreviver.

Paulo Bento sabia da situação financeira do clube quando assumiu o cargo de treinador do clube em Outubro de 2005. Sabia que tinha que apostar fortemente nos jovens formados no clube e foi o que fez lançando e consolidando João Moutinho, Miguel Veloso, Nani, Yannick, Rui Patrício, Pereirinha e Daniel Carriço na formação principal.
Construiu equipas competitivas que conseguiram lutar taco a taco com o FC Porto pela conquista de três títulos nacionais. Alcançou quatro segundos lugares consecutivos no Campeonato. Venceu duas Taças de Portugal e duas Supertaças. Participou três vezes na Champions e atingiu numa ocasião os quartos de final da Taça UEFA. É o segundo treinador de sempre em tempo de permanência e no número de jogos à frente do Sporting.

E agora, Sporting? Despachado Paulo Bento quem será o ilustre sucessor? Será que consegue fazer alguma coisa de positivo com esta equipa? Não creio... aposto que será pior a emenda que o soneto. Está à vontade da maioria dos sócios e adeptos, devem sentir-se orgulhosos com o regresso ao passado (1982-2005) da instabilidade e da desgovernação no reino do leão...