segunda-feira, setembro 20, 2010

Sem qualquer espécie de tranquilidade...


... termina o rocambolesco processo de afastamento e sucessão de Carlos Queiroz do comando técnico da selecção nacional. Depois da novela do fim de semana envolvendo o triângulo Gilberto Madaíl, José Mourinho e Real Madrid, cabe a Paulo Bento a responsabilidade de treinar Portugal durante o restante da fase de qualificação para o Euro'2012.

Madaíl saiu profundamente queimado do caso Queiroz e teve a ideia genial de convidar Mourinho para orientar a formação lusitana nos próximos dois jogos da qualificação, frente à Dinamarca e à Islândia, a disputar a 8 e 12 de Outubro respectivamente. Foi uma pena o Real Madrid ter-se revelado intransigentemente zeloso na manutenção dos seus interesses, nem que estes sejam manter o special one a treinar com três jogadores reservistas durante dez dias em Madrid, quando o poderia fazer com três titulares merengues em Portugal...

O efeito Mourinho, leia-se organização meticulosa e planeamento ao pormenor, tinha tudo para surtir efeito, revertendo o desastroso início da campanha frente ao Chipre e à Noruega. O simples facto dos jogadores nacionais estarem sob as ordens do melhor treinador do mundo faria maravilhas na equipa de todos nós. Quando leio e oiço compatriotas a criticarem e escarnecerem na tentativa de solução encontrada por Madaíl e na motivação e empenho de Mourinho (viria de borla, nem permitiria que lhe pagassem a gasolina, ao contrário de fiéis devotos da Nossa Senhora do Caravaggio - praticantes de boxe nos tempos livres - que mamavam 150 mil euros por mês, mais publicidades espectaculares à Caixa e ao BPN...) chego à conclusão que um dos principais problemas da selecção nacional é ter certos e determinados adeptos portugueses entre os seus apoiantes.

Paulo Bento tem assim uma tarefa ingrata e imediatamente decisiva pela frente que é não poder falhar nos próximos dois jogos, resultados negativos e será o adeus de Portugal à Ucrânia e Polónia, facto tremendamente merecido e justificado pela maneira vergonhosa e terceiro-mundista como os dirigentes federativos e governativos lidaram com Carlos Queiroz após o Mundial sul-africano.

Não, não me quero armar em advogado de defesa de Carlos Queiroz, mas a verdade é que o ex-seleccionador nacional foi alvo de uma vergonhosa tentativa de chacina pública por parte de Laurentino Dias, Amândio de Carvalho e Luís Horta, com a complacência do fragilizado Gilberto Madaíl. É certo que alcançaram o seu objectivo, Queiroz foi demitido, mas, quem tiver dois dedos de testa, decerto compreenderá que tudo não passou de uma péssima encenação por parte de uma corja de indivíduos que se servem dos cargos que ocupam para servirem interesses pessoais e/ou corporativos.

Queiroz regressou à FPF em Julho de 2008 com o objectivo claro de qualificar Portugal para as fases finais do Mundial'2010 e Euro'2012 e reformular novamente os escalões de base das selecções jovens nacionais, totalmente esquecidas durante o consulado de Scolari. A campanha rumo à África do Sul esteve longe de ser brilhante, mas a verdade é que Portugal lá conseguiu alcançar o apuramento. É certo que as exibições e o futebol praticado na fase final não foram brilhantes, mas Queiroz colocou Portugal nos oitavos-de-final, que era o objectivo mínimo e caiu de pé perante a Espanha, campeã europeia em título e futura campeã mundial, graças a um golo em off-side de Villa.

Logo, se os resultados obtidos sob a liderança de Carlos Queiroz foram perfeitamente aceitáveis e normais, é totalmente incompreensível e reprovável a tentativa de linchamento público levada a cabo pelos indivíduos acima referidos, com claro prejuízo no normal funcionamento da equipa das quinas, como tão bem se viu nos dois últimos jogos. Certamente que o intuito era levar ao despedimento por justa causa, mas com que interesse? A mando de quem? Quais as causas? Pessoais e/ou políticas? Respostas, nem vê-las... Mais um triste caso que denigre a, cada vez mais péssima, imagem do futebol português.

2 comentários:

Michel Costa disse...

Também lamentei a não liberação de Mourinho, JP. Seria interessante vê-lo comandando a Seleção Portuguesa mesmo que por duas partidas.
Quando ao Queiroz, só discordo de um trecho: Nem no terceiro mundo um técnico é tratado dessa maneira.

Abraços.

João Caniço disse...

Seria muitíssimo interessante mesmo, Michel. E não custa muito arriscar que a aposta em Mourinho tinha tudo para dar certo, aliviando assim a pressão ao sucessor, que há muito se sabia que iria ser Paulo Bento.
É verdade. Realmente, hoje em dia até nos países terceiro-mundistas existe mais respeito para com os seus técnicos. Não por acaso Queiroz apresentou uma queixa crime contra todas as 'personagens' intervenientes neste sinistro processo.
Abraços