domingo, maio 11, 2008

'Ciao Maestro'

Rui Costa despediu-se hoje dos relvados aos 36 anos, terminando assim uma brilhante carreira com passagens marcantes pelo Benfica, Fiorentina, Milan e selecção nacional. As suas características como jogador são sobejamente conhecidas, técnica individual sublime, grande capacidade de passe, assistências divinais e remate forte. Granjeou classe e categoria durante 18 anos nos relvados portugueses, italianos e europeus, e agora terminada esta brilhante etapa será o novo homem forte do futebol benfiquista. Tenho sérias dúvidas que um homem sério, honesto e humilde como Rui Costa consiga sobreviver no meio de abutres e víboras que é o dirigismo no futebol português...

A primeira memória que tenho do Rui Costa é na meia final do Mundial sub-20 em 1991 frente à Austrália onde um golo solitário seu nos colocou na final frente ao Brasil, final essa decidida nas grandes penalidades onde coube a Rui Costa transformar o penalty decisivo, sagrando-se assim Portugal bicampeão mundial.
Recordo-me da sua saída da Luz em 94 rumo a Florença pouco depois de se sagrar campeão nacional pelo Benfica, que afogado em dívidas foi obrigado a vendê-lo. Rapidamente se tornou ídolo em terras toscanas com a sua fama apenas equiparada à de Batistuta. Recordo-me ainda do seu golo magnífico quase de meio campo contra a Irlanda em 1995 que nos colocou na fase final do Euro 96.
Lembro-me de o ver marcar um golo ao Benfica em pleno estádio da Luz num jogo amigável de pré época com a camisola viola e ter desatado a chorar...
Lágrimas de revolta seriam as que derramou após ter sido injustamente expulso por um energúmeno vestido de árbitro chamado Marc Batta... Era o jogo decisivo de qualificação para o Mundial 98 e Portugal tinha obrigatoriamente que vencer na Alemanha para se apurar e a poucos mais de 10 minutos do fim vencia por 1-0 com um golo monumental de Pedro Barbosa e dava um autêntico banho de bola nos germânicos. Sensivelmente por essa altura é pedida uma substituição e mostrada a placa 10, a de Rui Costa que já tinha visto cartão amarelo. Il maestro dirigi-se normalmente para a linha lateral, a andar como qualquer jogador que se encontra a vencer e quando se encontra a 2 ou 3 metros de sair de campo é-lhe mostrado, para estupefacção de toda a gente, o 2º amarelo e o consequente vermelho... Pouco depois a Alemanha empata a partida, mercê em grande parte da vantagem numérica oferecida e a realização da TV alemã filma Rui Costa sentado à porta do balneário desfeito em lágrimas... Foi das maiores revoltas, senão mesmo a maior que já senti a ver futebol...
Foi injusta e severamente criticado após a derrota com a Grécia no jogo inaugural de estreia por muitos pseudo-comentadores de futebol. Até final da prova foi suplente, não desmoreceu com isso, tendo apontado um golo à Rússia no jogo seguinte e um golaço monumental contra a Inglaterra nos 1/4 de final já no prolongamento. Na final entrou a meia hora do fim e foi quanto a mim o melhor português em campo... não teve a despedida da selecção que merecia, mas individualmente confirmou toda a sua categoria nesses 30 minutos.
Em 2001 a história repete-se e desta vez é a Fiorentina, à beira da falência que se vê obrigada a vender o seu regista, no caso ao Milan e por 35 milhões de euros! Durante 5 anos é idolatrado no San Siro onde vence uma Champions em 2003 e um scudetto em 2004. Individualmente consegue atingir o excelente número de 65 assistências e é como um pai futebolístico para Kaká a quem ensina muitos dos truques de forma a poder triunfar no exigente Calcio.
Em 2006 regressa ao Benfica prescindindo do último ano de contrato com o Milan e de muitos milhares de euros. Se no ano passado a época não foi das melhores devido a algumas lesões este ano foi de longe o melhor jogador encarnado exibindo classe e categoria na sua época de despedida.

Tudo na vida tem um fim e Rui Costa decerto que já tinha o final da carreira bem delineado tal e qual como um sublime passe dos inúmeros que ilustraram a sua carreira... 'Ciao maestro, grazie per tutto'

4 comentários:

Ga b riel Ba lta zar disse...

Olá JP, Rui Costa neste último ano como jogador foi o melhor do Benfica, não haja dúvidas, infelizmente para nós adeptos de futebol o Rui vai ter o fardo de salvar o Benfica de uma desgraça nos próximos anos. Isto pode parecer um pouco óbvio, mas neste momento as coisas estão neste ponto: Rui Costa dos melhores do plantel encarnado termina a carreira; Léo e Rodriguez têm as malas aviadas; Cardozo não está satisfeito (atendendo à sua última conferencia de imprensa). Ou seja o Benfica está cheio de buracos no seu plantel. Quem terá de "disfarçar" estas fragilidades? Rui Costa! Muito bem! Tem autonomia suficiente para trabalhar? Não! A visita a Manchester acompanhado pelo presidente mostra claramente que ainda não tem autonomia.

"Tenho sérias dúvidas que um homem sério, honesto e humilde como Rui Costa consiga sobreviver no meio de abutres e víboras que é o dirigismo no futebol português..." dizes tu e bem, pois eu tenho muitas dúvidas, o Rui é humilde de mais para entrar e vingar nesse mundo, a não ser que ele próprio se transforme num abutre.

Há uns tempos vi essa cena inacreditável de apuramento para o Mundial de 98, onde Portugal foi perseguido. Onde já se viu um jogador a sair para ser substituido e é expulso só porque não anda a 100km hora? O futebol move milhões e um pormenor pode tender a balança para outro lado.

No jogo com a Grécia, que em bom da verdade toda a equipa se encontrava desnorteada, Rui Costa pode não ter conseguido levar a equipa para a frente mas contra a Rússia fez um belo golo e contra a Inglaterra já te falei sobre a minha opinião do golo dele, enfim é um golo mesmo para meter a baliza abaixo! Belo!

Em 2003, ainda eu não me tinha apaixonado por Turim e torci por ele na final da Champions, apesar de ter vibrado com a vitoria da Juve frente ao Real Madrid 3-1, foram dois jogos fantasticos.

Abraço

João Caniço disse...

Gabriel, concordo contigo, penso que Rui Costa irá ter muito e árduo trabalho já no futuro imediato como director desportivo, mas talvez o seu magnetismo e presença possam influenciar decisivamente várias permanências, a ver vamos... Quanto ao LF Vieira penso que deveria fazer o que sabe que é gerir e deixar o futebol exclusivamente para Rui Costa, já se viu LF Vieira percebe pouco de bola...

Penso que Rui Costa irá tentar impor as suas ideias e maneira de ser, caso seja impossível, especialmente em termos internos a renúncia ao cargo será o mais provável... mas, pode vir a ser um caso de sucesso no dirigismo desportivo como acontece com outros ex jogadores em outros países...

É, essa cena foi marcante para mim, estávamos a um passo do Mundial de França e de deixar os campeões europeus pelo caminho... recordo-me do jogo perfeitamente, jogámos num 4*2*4, com Paulo Sousa e Oceano em doble pivot, e depois uma linha de 4 médios ofensivos vagabundos (Figo, Rui Costa, João Pinto e Pedro Barbosa) que fez o que quis dos alemães! Foi brilhante, um festival de bom futebol, se não fosse um tal de Kopke na baliza, na altura era provavelmente o melhor do mundo...

No jogo da final do Euro 2004 penso que com a entrada de Rui Costa sensivelmente a meia hora do final coincidiu com a melhor fase de jogo de Portugal, foi o verdadeiro maestro, talvez devesse ter entrado mais cedo...

Lembro-me bem dessa final de 2003 assim como da meia final com o Real Madrid... continuo a dizer que a ausência de Nedved foi decisiva no desfecho final já que ele era o melhor jogador mundial na altura, apesar da derrota juventina e da minha natural desilusão não pude deixar de ficar contente com o triunfo de Rui Costa.
Fico contente que te tenhas apaixonado pela Juventus depois disso :)

Abraços

Ga b riel Ba lta zar disse...

É verdade, foi talvez a partir desse Juventus 3-1 Real Madrid, e do "fervor do público" que me apaixonei. Eu detestava a postura do Real Madrid nos jogos e na comunicação social na altura "Somos os galácticos" e o resto era paisagem. Foi uma final antecipada, um jogo que jamais esquecerei assim como o de 2004/2005 em que a Juve ganhou 2-0.

Abraço

João Caniço disse...

É verdade, nessa altura o Real Madrid era a equipa da 'moda', praticamente 'levada ao colo' pela comunicação social de toda a Europa! Lembro-me que assisti ao jogo na companhia de muita gente e penso que era o único a puxar pela Juve...
Foi uma grande partida, a Juve tinha uma grande equipa, uma excelente dupla de centrais, Ferrara e Montero assim como de centro campistas, Tacchinardi e Davids, Nedved era muito provavelmente o melhor jogador do mundo nessa altura, Zambrotta um ala magnífico e a fantástica dupla atacante Del Piero-Trezeguet!
Gabriel, eu tornei-me adepto da Juve desde a final da Taça UEFA 1992/93 disputada com o Borussia Dortmund, total 6-1 nas duas mãos! Pontificavam Roberto Baggio, Vialli, Conte, Dino Baggio, Moller, Marocchi,... fascinou-me bastante essa equipa também.
Abraços