sábado, maio 10, 2008

'Obviamente demito-o'

10 de Maio de 1958, Lisboa. A sala do café Chave de Ouro estava repleta de personalidades conhecidas pela oposição ao regime salazarista. O general Humberto Delgado apresentava-se como candidato independente à Presidência da República. Após a declaração da candidatura surge a primeira pergunta por parte da imprensa presente, no caso do correspondente da France Press: "Sr. general, se for eleito, que fará do sr. Presidente do Conselho?" De imediato resposta sintomática e elucidativa: "Obviamente demito-o." Esta frase dirigida ao ditador Salazar ficaria para a história...
50 anos depois é publicado por Frederico Delgado Rosa, neto do general, Humberto Delgado - Biografia do General Sem Medo. Na apresentação do livro, Frederico referiu que a frase do seu avô marcou "o começo do fim da ditadura".
A 8 de Junho de 1958 as eleições decorrem sem incidentes de maior, mas com a fiscalização do sufrágio negada aos representantes de Delgado, ocorreu uma fraude gigantesca que dá a vitória à União Nacional de Salazar com cerca de 750 mil votos contra quase 250 mil obtidos pelo general...
Em Fevereiro de 1965, Delgado é atraído para uma cilada por parte da PIDE na fronteira espanhola, mais propriamente em Villa Nueva del Fresno onde é assassinado. Na biografia surge a tese que foi morto na sequência de graves traumatismos no crânio devido a luta e violência física e não assassinado a tiro como vem referido em quase todos os documentos oficiais e livros de história. Frederico sustenta a hipótese com base na autópsia e nas perícias médico-legais feitas pelas autoridades espanholas logo após a morte e ainda nos depoimentos contraditórios dos agentes da PIDE. A verdade é que os arquivos referentes ao assassínio de Humberto Delgado encontram-se em muito mau estado na Torre do Tombo e que vários documentos do processo estão desaparecidos, por isso é presumível que nunca se esclareça fielmente de que forma foi assassinado o general sem medo...

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