quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Até onde chegará este Aston Villa?


"No que toca à corrida ao título o Aston Villa pode ser o candidato inesperado. Martin O'Neill está a realizar um trabalho impressionante e podem surpreender muita gente". Estas palavras, proferidas por Alex Ferguson em meados de Setembro, soaram pouco plausíveis e houve muitos que as entenderam como uma pequena provocação aos outros três tradicionais candidatos ao título inglês: Chelsea, Liverpool e Arsenal, que formam juntamente com o Man Utd o grupo dos Big 4, as equipas que nos últimos anos têm dominado de forma avassaladora o futebol inglês.
A verdade é que passados cerca de 5 meses os villans encontram-se no 3º lugar ex aequo com o Chelsea, a 5 pontos do líder Man Utd, a apenas 3 do Liverpool e com 5 de vantagem sobre o Arsenal, confirmando-se não só como a grande revelação da prova como forte candidato a um lugar na Champions na próxima temporada. O título, para já, não é assumido como objectivo, mas se até final da época a situação se proporcionar porque não?

O técnico norte-irlandês Martin O'Neill dispõe normalmente a equipa de Birmingham num 4*3*3 apresentando um futebol rápido e vistoso, com forte exploração de jogo pelas alas e declarada aposta no contra-ataque, em especial nos jogos fora de casa, já que conta com um trio ofensivo bastante veloz e dinâmico.

A baliza está à guarda do veterano norte-americano Brad Friedel, contratado no último Verão ao Blackburn, onde passou as últimas 8 temporadas. Aos 37 anos mantem uma notável forma física destacando-se pela extrema segurança transmitida à equipa. Bateu recentemente o recorde do maior número de jogos consecutivos na Premiership com o incrível número de 176 partidas!
O patrão da defesa é o dinamarquês Martin Laursen, antigo jogador do Milan, fortíssimo fisicamente e no jogo aéreo. Grande teste ao rendimento defensivo do Villa será a sua ausência por 2 meses em virtude de uma cirurgia a um joelho embora o espanhol Carlos Cuéllar e o Zat Knight ofereçam garantias duma substituição efectiva do capitão de equipa. O outro central titular é por norma Curtis Davies, inglês de 23 anos que está a confirmar um enorme potencial.
Nas laterais actuam Nigel Reo-Cocker e Luke Young, dois jogadores rápidos bastante efectivos no apoio ao ataque, embora se tratem de adaptações ao lugar já que Reo-Cocker é centrocampista de origem e Young passou da direita para a esquerda da defesa devido à lesão do holandês Wilfred Bouma.

No meio campo o destaque vai por inteiro para Gareth Barry, jogador extremamente versátil e actual titular da selecção inglesa. Barry estreou-se na Premiership pelo Villa aos 17 anos como defesa central, tendo com o passar dos anos evoluído para defesa esquerdo, médio esquerdo até se fixar como médio organizador. No último Verão esteve prestes a assinar pelo Liverpool e como demonstrou vontade de representar os reds perdeu a braçadeira de capitão. Apesar disso, tem mantido um rendimento impressionante, todo o futebol ofensivo dos villans passa pelo seu excelente pé esquerdo. Com apenas 27 anos já ultrapassou a marca de 400 jogos pelo Aston Villa e com a lesão de Laursen foi novamente nomeado capitão de equipa.
Os carregadores de piano são Steve Sidwell, contratado no último Verão ao Chelsea e Stilyan Petrov, búlgaro vindo do Celtic em 2006 tal como Martin O'Neill.

O trio ofensivo é todo ele formado por jovens. O extremo direito é James Milner, jogador de grandes atributos técnicos que se estreou na Premiership com apenas 16 anos ao serviço do Leeds United. Na esquerda evolui Ashley Young, dono de um óptimo pé esquerdo, bastante rápido e perigoso em lances de contra-ataque. O ponta de lança é muito provavelmente a maior revelação do ano na Premiership, chama-se Gabriel Agbonlahor, leva 11 golos no campeonato e estreou-se recentemente pela selecção principal inglesa. Dotado tecnicamente, extremamente rápido e óptimo finalizador tem tudo para ser um caso sério no futebol inglês e europeu. Fiquem atentos a ele no próximo Euro Sub-21.
A recente chegada de Emile Heskey promove novas alternativas ao futebol do Villa, como uma eventual aposta num jogo mais directo, nomeadamente nas partidas em casa, beneficiando da enorme compleição física do antigo jogador dos reds.

Como jogador, Martin O'Neill, destacou-se ao serviço da selecção da Irlanda do Norte no Mundial de 82 e sagrou-se bi-campeão europeu pelo Nottingham Forest em 79 e 80. Como treinador começou a dar nas vistas ao serviço do Leicester City, modesto clube que promoveu à Premiership em 1996 e levou à conquista de duas Taças da Liga. Em 2000 assumiu o comando do Celtic onde venceu 3 campeonatos e 3 taças escocesas além de ter chegado à célebre final da Taça UEFA de 2003, perdida para o Porto de Mourinho no prolongamento.
Deixa Glasgow em 2005 e após um ano de paragem assume o comando do Aston Villa, que apenas terminara a época de 2005/06 no 16º lugar. Com tempo e espaço para aplicar os seus métodos, O'Neill levou a equipa na temporada passada a um bom 6º lugar depois de um razoável 11º na época de estreia.
Ainda em prova na Taça UEFA e na FA Cup, O'Neill tem razões para estar optimista quanto ao futuro, construiu uma equipa praticamente de raíz, sem grandes estrelas e com pouco dinheiro. Quando, recentemente, um jornalista lhe perguntou se o Villa poderia, esta época, conquistar o título de campeão, que já não vence há 28 anos, a resposta não poderia ser mais explícita: "Está bêbedo?".
A verdade é que, embora o Villa se encontre inserido na luta pelo título, os últimos quatro meses da temporada são um teste de resistência e perseverança. Aí veremos se o Villa tem estofo para aguentar a pressão e O'Neill saberá certamente isso.


2 comentários:

Ga b riel Ba lta zar disse...

Excelente análise á equipa do Aston Villa JP.
Os meus parabéns, quando um dia o Luís Freitas Lobo abandonar a RTP por favor chega-te à frente ;)

De facto O'Neil já é conhecido pelos portugueses e os escoceses devem estar a esfregar as mãos de contentamento ao ver um antigo comandante do Celtic "arrumar para o lado" Arsenal e Chelsea, mas temo que esta prestação do Villa se assemelhe à do Manchester City de Eriksson que começou também o campeonato pelos lugares cimeiros e depois caiu pela tabela abaixo.

Emile Heskey poderá voltar ao velhos tempos em que jogava no Liverpool? Vamos ver.

Abraços.

João Caniço disse...

Muito obrigado Gabriel, fico lisonjeado pela comparação! O Luís Freitas Lobo é muito provavelmente o melhor comentador da televisão portuguesa, gosto bastante de ouvir os seus comentários técnico-tácticos.

Em termos de comparação o City do Eriksson esteve na frente da Premiership no ano passado apenas durante as primeiras rodadas, não te sei ao certo dizer quantas, mas duvido muito que tenham passado das 9 ou 10. O Villa, passadas 24 jornadas mantém-se solidamente nas primeiras posições, é o 3º classificado e está com boas chances de deixar o Arsenal fora da Champions. Mesmo que os 'gunners' recuperem nas 14 jornadas que faltam não acredito que o Villa desça mais do que para o 5º lugar visto que o Everton, que está isolado na 6ª posição, já está a 11 pontos dos 'villans'...
Bem, para já o Heskey estreou-se muito bem logo com 1 golo. Não digo que volte aos tempos do rendimento no Liverpool, mas será por certo uma boa opção atacante para Martin O'Neill.
Abraços