terça-feira, fevereiro 17, 2009

Dois pesos e duas medidas


Se a opinião de cada um é como cada qual, há que saber ouvi-la e respeitá-la, o que a comunicação social transmite deveria ser isento e realista, não devendo tentar manipular a opinião colectiva com ideias falsas e pré-concebidas do tema em questão.
Quem não acompanhe muito por dentro a cena da política internacional decerto terá ficado com a ideia que Hugo Chávez ao vencer o recente referendo na Venezuela, foi eleito como presidente desse país sul-americano para sempre! Foi essa a mensagem que alguns media tentaram passar durante o dia de ontem, numa clara violação do código ético do jornalismo. A verdade é que foi referendada uma emenda à constituição venezuelana que permite não só ao presidente do país como a todos os titulares de cargos políticos públicos recandidatarem-se em eleições as vezes que queiram e serem reeleitos sempre que o povo assim o decidir.

Outros media, um pouco menos imparciais, focaram o facto de ter sido o segundo referendo do mesmo teor em 2 anos para Chávez ver estendido de forma ilimitada os seus poderes. Nada mais errado, visto que no referendo de 2007 apenas a suspensão do limite de mandato do presidente venezuelano estava em questão. Em 2009 foram sufragados todos os cargos políticos públicos sem excepção.

O ataque continuou ao apelidarem Chávez de ditador populista visto que tenta perpetuar-se no poder e só o vai conseguir através de um segundo referendo. E agora pergunto eu, a União Europeia não está a tentar por todos os meios que o referendo na Irlanda seja novamente realizado, por forma a que a constituição europeia saia desta vez vencedora? Está sim, mas são os senhores finos da Europa, os donos do capital, que tentam por todos os meios expandir o neoliberalismo, o federalismo e o militarismo. Aqui já está correcto, não se pode criticar nem dizer mal destes senhores. O malandro do Chávez tenta colocar em prática um regime vincadamente socialista, totalmente antagónico ao protagonizado pelos senhores da UE, já se pode dizer cobras e lagartos dele.

Até nós em Portugal repetimos um referendo de forma a que a despenalização do aborto fosse finalmente efectuada, tudo por culpa do PS e do BE, que insistiram veementemente nesta solução em contraponto ao PCP, que sempre defendeu a despenalização votada na Assembleia da República (afinal os deputados foram eleitos para fazerem alguma coisa...), com o argumento que o referendo não teria os 50% de participação vinculativos. E não teve mesmo, originando que ainda hoje a Direita e a Igreja não estejam conformadas com a entrada em vigor dessa lei. Quem sabe um dia que voltem ao poder (oxalá que nunca) voltem a fazer um referendo para voltar a punir criminalmente o aborto...

Portanto, há que saber analisar as coisas com rigor e transparência, não opinando sobre as mesmas conforme mais convém. Em Portugal é possível termos um presidente dum governo regional há mais de 30 anos, assim como vários presidentes de câmaras municipais, porque razão chamamos ditador a um homem que tenta fazer algo semelhante? Apelidamos de ditador um homem que foi eleito democraticamente pelo povo venezuelano e sofreu na pele a tentativa de um golpe de estado em 2002 por parte das forças conservadoras desse país com o apoio tácito dos EUA e de Espanha? A comunicação social que tenha coerência nas análises e não nos tome a todos por burros e mentecaptos!

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