sexta-feira, março 06, 2009

O 'terramoto' Mourinho

Como nota introdutória tenho que realçar o respeito e admiração que tenho por Mourinho como excelente profissional e pelas inúmeras conquistas enquanto treinador. Como português sinto imenso orgulho por ver um compatriota atingir o sucesso a uma escala verdadeiramente planetária!
Como consequência da Lei Bosman e do desnível cada vez maior existente entre países/clubes ricos dos pobres, recordo-me pensar ser praticamente impossível voltar a ver uma equipa portuguesa conquistar uma competição europeia. Estava redondamente enganado pois Mourinho conseguiu o enorme feito de conquistar a Taça UEFA em 2003 e a Champions em 2004 com o FC Porto, algo simplesmente extraordinário para o futebol português!
Se em termos internacionais essas conquistas foram amplamente merecidas e sem quaisquer espécie de ressalvas, em termos nacionais os títulos conseguidos por Mourinho ficaram ensombrados pelo tristemente célebre Apito Dourado, no qual dirigentes do FC Porto corromperam árbitros. Até hoje nunca foi esclarecido se Mourinho sabia ou não da situação, imagino que a desconhecesse por completo, mas apesar disso nunca comentou esse incómodo assunto...

Em Maio de 93 vibrei intensamente com a conquista da Taça UEFA por parte da Juventus, uma equipa de sonho onde pontificavam nomes como Roby e Dino Baggio, Vialli, Ravanelli, Conte, Ferrara e Peruzzi. Desde essa data tornei-me adepto indefectível da vecchia signora, entusiasmei-me com a maravilhosa equipa de Lippi e as suas inesquecíveis conquistas, enfureci-me com as finais da Champions perdidas perante Dortmund e Real Madrid, agonizei com o vazio de títulos durante a gestão de Ancelotti, vibrei com o regresso de Lippi e a conquista de novos títulos, chorei ao ver as lágrimas de Nedved após a semi-final com o Real Madrid, praguejei contra Capello por deixar insistentemente Del Piero no banco, envergonhei-me com o Calciocaos, recomecei da estaca zero com a queda na Série B e confio num futuro vitorioso muito em breve.
Tudo isto vivido com muita emoção, gratuita, como é normal num comum adepto. Como tal sinto-me no pleno direito de rebater por completo as injustas acusações que o profissional Mourinho, assalariado do Inter por 9 milhões de euros anuais, dirigiu à Juventus.

Muito sinceramente penso que já vi este filme de Mourinho, tal e qual como aconteceu aquando da sua passagem pelo FC Porto. Com as ajudas da arbitragem a tornarem-se cada vez mais óbvias e flagrantes o tom cerrado das críticas aumentou e Mourinho sentiu a necessidade de disparar em todas as direcções com o objectivo perfeitamente compreensível de aglutinar jogadores e dirigentes na luta contra os inimigos do clube que representa, exactamente como fez esta semana!
Não acredito que Moratti esteja a corromper árbitros como Pinto da Costa fez, acredito sim que os árbitros tenham uma tendência natural para beneficiar a equipa mais poderosa do campeonato, aquela que tem exercido um domínio inequívoco nos últimos anos, uma espécie de estigma ou élan que protege os mais fortes. Foi assim com a Juventus e o FC Porto na década de 90. Sigo atentamente a Premiership e noto um certo proteccionismo ao Man Utd, não é muito evidente à primeira vista, mas ouso afirmar que ele existe. Apesar de ser errado acaba por ser normal um certo benefício aos chamados grandes e como tal só ficava bem a Mourinho reconhecer esse facto, mas nunca até hoje o ouvi dizer que a sua equipa tinha sido beneficiada, apenas o tal lance de Siena que é tão flagrante que só lhe ficava ainda mais mal não o reconhecer...

Os principais jornais desportivos italianos não tardaram em fazer comparações entre erros a favor e contra de Inter e Juve e até elaboraram classificações virtuais. Como a Gazzetta dello Sport e o Tuttosport são fortemente conotados com os emblemas em questão achei por bem ter apenas em consideração a análise do romano Corriere dello Sport. Quem estiver interessado está aqui o link.
Segundo o referido diário os nerazzurri teriam 15 decisões a favor e 8 contra enquanto os bianconeri 10 favoráveis e 6 desfavoráveis. Debrucei-me então sobre a análise pormenorizada dos lances e constatei que alguns deles nem deveriam contar visto que na altura em que ocorreram já os respectivos desafios estavam mais que decididos. Depois ri-me com a descrição do lance do golo de Ronaldinho contra o Inter na primeira volta, que deveria ter sido anulado porque Kaká estava com o pé direito fora de jogo...
Lá me concentrei, tentei ser o mais imparcial possível e conclui que a Juve não se pode queixar nem sentir bafejada pelas arbitragens. É certo que há erros graves a favor tais como o penalty não assinalado a favor do Catania ou o cometido por Mellberg sobre Jovetic e o golo anulado a Gilardino, ambos com influência directa no resultado, mas também existem penalties não assinalados contra Lecce, Cagliari ou Palermo igualmente decisivos no marcador final.
Quanto ao Inter tem realmente um saldo de decisões favoráveis e decisivas bem superior às contrárias. Começando pelos penalties de Zanetti em Génova e de Burdisso em Florença, passando pelo off-side de Maicon em Siena, o golo com a mão de Adriano e o penalty fantasma de Balotelli vão muitos eventuais pontos a favor que um penalty de Abate (Torino) e o pé direito de Kaká não compensam de maneira nenhuma!
Ainda esta semana nos jogos a contar para a Taça de Itália se viu a diferença de tratamento: Iaquinta viu-lhe ser um golo anulado por estar no máximo dos máximos com o braço esquerdo fora de jogo enquanto Cordoba e Zanetti continuaram em campo depois de efectuarem entradas duríssimas. A mesma sorte já não teve Gastaldello da Samp...

Espero vivamente que este caso Mourinho e a polémica sobre as arbitragens sejam encerrados o quanto antes e que os protagonistas do Calcio voltem a pensar naquilo que é realmente importante e bonito: o futebol jogado dentro das quatro linhas!

2 comentários:

Michel Costa disse...

JP,

Concordo com o seu texto integralmente, mas só faço um adendo: Essas matérias que reclassificam os campeonatos de acordo com possíveis erros de arbitragem é algo que, de forma alguma, pode ser levado a sério.
Por exemplo, nesses "estudos" os jornalistas imaginam que todos os pks são convertidos e que os times não reagem após sofrerem os gols. Também desconcideram faltas no meio-campo que, se marcadas ou não, mudam todo o rumo da partida.
Assim, fica impossível colocar essas matérias à luz da seriedade.

Abraço.

João Caniço disse...

Com certeza, Michel, estou de pleno acordo com essa tua análise, tanto que eu apenas falei em "muitos eventuais pontos a favor " e realço os 'eventuais' considerando plenamente correcta a tua leitura desses 'estudos'.
Por outro lado apenas me baseei na análise do 'Corriere dello Sport' para vincar o quão Mourinho está errado ao acusar a Juventus de ser beneficiada. As análises da 'Gazzetta' e do 'Tuttosport' são por demais subjectivas e ambos sabemos do seu apego aos clubes em questão...
Abraços