quarta-feira, maio 13, 2009

Censurável!


Tal como era previsível a esmagadora maioria dos adeptos do Barcelona e do Athletic Bilbau assobiaram ruidosamente o hino espanhol nos momentos que antecederam o início da partida da final da Taça do Rei.
É sempre lamentável o desrespeito pelo hino nacional de um país, embora neste caso tenha que se considerar a forte atenuante que são as legítimas aspirações do povo basco e catalão à independência relativamente a Espanha. Duas nações com língua e cultura próprias são subjugadas há centenas de anos pelo imperialismo castelhano, acabando por ser plenamente normal este tipo de manifestações.

O que já não é nada normal num país que vive há cerca de 30 anos em democracia é a TVE, televisão pública espanhola que transmitia o jogo em directo desde o Mestalla, censurar literalmente o acontecimento!
No momento em que o hino começou a ser tocado, a emissão em directo passou imediatamente para Bilbau e depois para Barcelona dando conta do ambiente vivido entre os adeptos das duas formações nas respectivas cidades...
De imediato, foi veiculada a informação de que um erro técnico teria impedido a transmissão em directo do hino, que já só viria a acontecer em diferido no intervalo da partida, com o som amplamente retocado, não se ouvindo o mínimo assobio e apenas com imagens de uma pequena minoria de adeptos que respeitaram o momento...

É caso para afirmar que as ditaduras políticas já acabaram na Europa, mas a comunicação social, controlada na sua generalidade por grandes interesses económicos e políticos, continua a impor a censura de uma forma lamentável e degradante...

Quanto ao jogo propriamente dito, encontraram-se as duas equipas com mais triunfos na competição, 24 títulos para o Barça e 23 para o Athletic. O equilíbrio registado noutros tempos durou apenas a primeira parte (1-1 ao intervalo), já que na segunda metade os catalães puxaram dos galões e conquistaram o troféu com um expressivo 4-1 final!

A apenas um ponto do título na Liga e com a final da Champions no horizonte, os blaugrana bem podem continuar a sonhar com uma época verdadeiramente singular!

12 comentários:

germantxo disse...

da galiza, viva portugal. o de tve foi incrível mas aínda o é mais viver subjugados a castela. só portugal escapou a tempo e horas

João Caniço disse...

É verdade, Germantxo. Apenas mencionei a Catalunha e o País Basco no texto, mas a Galiza sofre exactamente a mesma situação. Felizmente, nós livramo-nos deles em boa altura, espero que um dia vocês também consigam...
Quanto à atitude da TVE é no mínimo inqualificável!
Um forte abraço para a Galiza!

Michel Costa disse...

JP,

Também condeno a edição promovida pela TVE, mas, sinceramente, não vejo nada de mais em não exibir uma manifestação coletiva de falta de educação.

Sim, falta de educação. Poderiam fazer silêncio absoluto no estádio. Mostrariam que não se sentem espanhóis do mesmo jeito.

Além disso, o sentimento contra a Espanha não os impede de disputar a milionária liga espanhola ou a Copa do Rei.

Por exemplo, certa vez, Xavi e Puyol entraram em campo com os meiões arriados apenas para não mostrar as cores da bandeira espanhola neles. Não seria mais fácil recusar a convocação? Não seria uma maneira mais digna e direta de protestar?

Para mim, nos dias de hoje, esse tipo de manifestação só ocorre quando e da maneira conveniente. O que, na minha opinião, perde seu sentido e sua validade.

Um abraço.

João Caniço disse...

Michel, o hino de Espanha não tem letra, é apenas música, por isso presumo que o silêncio absoluto não funcionasse como medida de protesto...
É verdade, não me lembro de nenhum atleta basco, catalão ou galego que tenha abdicado de representar Espanha em eventos internacionais. Apesar disso acho que seria extremamente injusto atletas do nível de Xavi, Puyol e Iniesta deixarem de estar presente em grandes competições por um protesto desse género. Teria grande impacto, seria um gesto assinalável para com a sua região autónoma, mas não apagaria a desilusão desportiva com toda a certeza. Afinal, não são os desportistas que devem pagar as más decisões políticas...
Abraços

Michel Costa disse...

JP,

Foi mal. Esqueci desse enorme detalhe do hino da Espanha.
Mas mantenho o restante do que escrevi. Se os jogadores não se sentem à vontade para representar seu país a ponto de arriar o meião para encobrir as cores do mesmo, é melhor que recusem logo a convocação.
Afinal, estão ali para representar uma nação. Visto que não se sentem parte dela, nada mais justo que pedirem suas dispensas.

Abraços e um ótimo fim de semana.

João Caniço disse...

Com certeza, Michel, também sou da mesma opinião, se os jogadores não se sentem verdadeiramente espanhóis não deviam representar o país. Provavelmente, alguns terão algumas dúvidas nesse sentimento e apenas representam Espanha devido a um maior reconhecimento internacional e pelo enriquecimento do palmarés pessoal. Mas, também não é menos verdade que muitas das naturalizações 'fantasma' são muito mais condenáveis nesse aspecto.
Abraços e excelente fim de semana.

Michel Costa disse...

JP,

Como já escrevi algumas vezes, também sou contra as naturalizações fantasmas. Mas acho que o caso de bascos e catalães é até mais condenável e explico o porquê.
Vamos tomar o exemplo de Amauri. Ele é brasileiro, viveu aqui até o fim da adolescencia, se mudou para a Itália e lá se estabeleceu. O país o acolheu, deu-lhe um emprego e foi aberta a possibilidade de naturalização para defender a Azzurra.
Veja, o atleta não tem nada contra aquela nação. Pelo contrário. Mesmo que não se sinta um italiano de fato, tem no mínimo uma simpatia por aquela terra.
Agora, os catalães e bascos não. Não se sentem espanhóis, foram mortos, perseguidos e oprimidos por décadas e tem a justa razão para não se sentirem parte do país.
O problema é que só se manifestam da maneira que lhes é mais conveniente. Algo mais do que condenável na minha opinião.

Abraços.

João Caniço disse...

Michel, quando me referi a naturalizações 'fantasma' estava a pensar na tentativa do Ailton quando representava o Schalke 04 em adquirir a nacionalidade do Qatar ou a do caso que temos comentado, o guarda-redes Bruno do Flamengo.
Na minha opinião são naturalizações 'fantasma' porque os jogadores nunca viveram no país que querem representar e no caso do Ailton não têm qualquer afinidade com o país... O Bruno, pelos vistos, ainda tem uma avó portuguesa...
O exemplo do Amauri é um excelente exemplo! Esse é um dos típicos casos em que eu, apesar de não estar de acordo, admito a naturalização como algo lógico e com sequência a uma prolongada etapa da vida de um estrangeiro no país de acolhimento.
Em relação aos atletas catalães e bascos que possam nutrir esses sentimentos que referes, e acredito plenamente que alguns o sintam, e mesmo assim representam Espanha é no mínimo incoerente. Só consigo perceber essa situação pela valorização e reconhecimento internacional. Seria muito complicado imaginarmos a Espanha no próximo Mundial sem Xavi, Iniesta e Puyol por uma situação idêntica. Acredito que eles se sintam bastante mais catalães do que espanhóis, mas a oportunidade de jogar um Mundial deve 'pesar mais na balança', embora esteja plenamente de acordo com a tua opinião, seria mais íntegro e de acordo com os princípios e sentimentos de cada um...
Abraços

Michel Costa disse...

JP,

Desculpe. Não imaginei que você se referia apenas a esse tipo realmente condenável de naturalização.
Aí já é outra discussão. Mas, mesmo assim, ainda acho pior o caso dos espanhóis que não se sentem espanhóis, já que engolem toda uma ideologia em nome de algo que lhes interessa.

Abraços e um ótimo domingo.

João Caniço disse...

Michel, estou de acordo contigo quando dizes que é condenável, o problema é que dificilmente algum desses craques irá abrir mão da realização pessoal em troca da ideologia vigente na sua região. Seria bonito, ficaria na história, mas não acredito que isso venha a acontecer...
Abraços e parabéns pela conquista do 'scudetto'!

Michel Costa disse...

Exatamente, JP.
Você chegou onde eu queria. Se o "problema é que dificilmente algum desses craques irá abrir mão da realização pessoal em troca da ideologia vigente na sua região", então porque dobrar o meião justamente para protestar, se eles estão ali para defender uma nação que não é sua?
Isso tem nome. É hipocrisia da parte deles. Se não abrem mão do sonho, que entrem em campo sem fazer gracinha ou média com os catalães.

Abraços.

João Caniço disse...

Sem dúvida, Michel, chama-se a isso fazer jogo duplo, ou seja, mantém o bom nome perante os adeptos catalães e continuam a representar a selecção espanhola em busca de maior reconhecimento internacional. Chama-se a isso incoerência ou mesmo hipocrisia como referes. Infelizmente, esta situação deverá continuar nos próximos tempos...
Abraços