terça-feira, maio 26, 2009

Queda inevitável

11 anos depois o histórico Belenenses volta a cair na II Divisão. Desfecho pouco surpreendente quando recordo o final da temporada 2003/04 onde o Moreirense deu uma ajuda decisiva à manutenção dos azuis ao derrotar o Alverca e 2005/06 quando a direcção do Gil Vicente inscreveu de forma irregular Mateus, sendo o clube penalizado com a descida de escalão, salvando-se afortunadamente o Belém da descida consumada desportivamente.

A temporada seguinte, 2006/07, foi um autêntico oásis no deserto, com Jorge Jesus ao leme e escolha criteriosa de reforços, o Belém fez um campeonato de grande nível, terminando na 5ª posição e atingindo a final da Taça de Portugal, perdida ingloriamente para o Sporting nos instantes finais.

Seguindo a linha da continuidade, 2007/08 começou em bom plano com honrosa participação na Taça UEFA encarando de frente o poderoso Bayern Munique. A carreira no campeonato manteve-se positiva até ser cometido um erro crasso na utilização indevida de Meyong, que custou a penalização de 6 pontos e a perda do lugar europeu. Começava aí o descalabro azul, coincidente com o falecimento do presidente Cabral Ferreira.

O sucessor, Fernando Sequeira, tentou impor um modelo de gestão pragmático e rigoroso, cortando com os gastos excessivos dos últimos anos. A ideia era válida, só que correu tudo mal, começando no desvio de Jorge Jesus para Braga, passando pelas saídas a custo zero de Rúben Amorim, Rolando, Eliseu e Gonçalo Brandão (jovens promissores formados no Restelo e que passados poucos meses são presenças assíduas nas selecções nacionais) e terminando na aposta para treinador no brasileiro Casimiro Mior, que trouxe consigo um avião repleto de jogadores de qualidade para além da duvidosa.

Sequeira, após ouvir assobios dos adeptos em protesto contra a fraca prestação da equipa no jogo da 2ª jornada frente ao Paços de Ferreira, bateu com a porta, ficando uma comissão de gestão a liderar os destinos do clube. Ao fim de 5 rodadas e 2 míseros pontos conquistados, a comissão demitiu Mior.

O antigo ícone portista, Jorge Costa, a realizar trabalho extremamente válido no Olhanense da II Divisão foi o escolhido para novo treinador. O acordo parece iminente, Jorge Costa está prestes a deixar o Algarve e partir para Lisboa, quando recebe o telefonema de um dirigente azul que o trata por Jaime, nome próprio do treinador referenciado como segunda opção para o cargo. Ferido no orgulho por o Belenenses estar a negociar com outro técnico nas suas costas, Jorge Costa recusa o convite, permanecendo em Olhão, conseguindo no final da época o feito de levar o clube algarvio à I Divisão 34 anos depois!

O Belém acaba mesmo por contratar Jaime, de apelido Pacheco, treinador campeão com o Boavista em 2001 e com campanhas meritórias nas provas europeias durante o seu legado no clube do Porto. No entanto, a aura vitoriosa que construiu no Bessa saiu fortemente fragilizada quando foi o principal responsável pela despromoção do Vit. Guimarães em 2006 e o Belenenses corria sérios riscos que situação idêntica voltasse a acontecer.

Contudo, alguns bons resultados iniciais e a reformulação do plantel em Janeiro deram a sensação que o Belém iria dar a volta por cima! Puro engano! A segunda metade da temporada foi um fiasco completo, uma sucessão incrível de péssimos resultados com epílogo na estrondosa goleada caseira sofrida perante o Braga, 0-5, a duas rodadas do fim do campeonato!

A nova direcção presidida por Viana de Carvalho, eleita nas vésperas dessa partida, demitiu de imediato o treinador nortenho e apostou em Rui Jorge, antigo lateral esquerdo e actual treinador dos júniores, na tentativa desesperada de salvar o clube da descida.

A sofrida vitória obtida frente ao Rio Ave adiou a decisão para a última jornada com o Benfica. Os adeptos azuis acreditaram que era possível o milagre e vários milhares estiveram com a equipa na Luz no passado sábado. O golo madrugador de Silas manteve o Belém na I Divisão por 18 minutos, tempo que o sistema defensivo demorou a repetir o catastrofismo revelado em praticamente todos os jogos da temporada. A fechar a primeira parte, Saulo tem uma atitude deplorável, é expulso, originando uma natural derrota e consequente queda na II Divisão...

O futuro para já é algo incerto. Primeiro há que regularizar os compromissos salariais com os atletas profissionais, anunciar o treinador para 2009/10 fazendo votos para que Rui Jorge continue no cargo e estruturar condignamente o plantel para a aventura da II Divisão. Com a queda abrupta de receitas é imperioso estabelecer a melhor relação possível entre custo e qualidade. O primeiro passo está dado com a renovação de contrato com vários jovens formados no clube. Depois, há que tentar manter as principais referências no relvado e no balneário: Silas e Zé Pedro. Por último, deve-se reforçar a equipa com atletas que possuam experiência de II Divisão, competição ultra-competitiva e com contornos bem diferentes do primeiro escalão do futebol português.

Por vezes, é preferível dar um passo atrás para em seguida dar dois em frente! Esperemos que a nova direcção do Belenenses saiba tomar as decisões correctas, de forma a potenciar esta velha máxima.

4 comentários:

Filipe disse...

É com muita pena que vejo uma equipa de Lisboa a ser despromovida e ainda por cima o Belenenses um histórico. A tua analise está correcta em todos os aspectos, mas houve alguem que saiu a ganhar no meio destas contratações todas no inicio da época passada e, talvez a um preço alto, alto demais para um clube que simpatizo muito. Devo dizer-te que fui assistir ao vivo o "meu" Benfica contra o "teu" Belem no ultimo sábado e mesmo assim no final do jogo os adeptos azuis brindáram a equipa com palmas, é só para veres a diferença que´há entre os verdadeiros adeptos que apoiam incondicionalmente o seu clube e os "outros" adeptos menos... civilizados.
Abraço. Fica bem.

João Caniço disse...

Obrigado, Filipe, pelas tuas palavras extremamente válidas e reconfortantes.
Pois é, é bem provável que algum obscuro empresário tenha-se abotoado bem à custa dessas contratações desastrosas, é o futebol português no seu melhor...
Sem dúvida, a atitude dos adeptos do Belenenses no final do jogo é de louvar. É com esse espírito que se deve encarar e disputar a próxima temporada!
E no 'teu' SLB? O Quique fica ou sai? Que novela que pr'aí vai... ;)
Abraços

Filipe disse...

Eu gostava que Quique continuasse o seu trabalho progressivamente e normalmente os resultados não apareçem da noite para o dia. Ok, teve muitas decisões discutiveis ao longo da época e não conseguiu formar um 11 base, talvez não se tenha adaptado ao nosso campeonato, mas estou convencido que se se apostar na continuidade os resultados irão aparecer. O que o Benfica precisa menos é de formar outro plantel, sob pena de cair (novamente) nos erros do passado.
P.S.: Talvez o teu CFB regresse á 1ª liga pela secretaria...outra vez. Vamos ver se o Estrela consegue pagar as dividas ao fisco a tempo.;) Fica bem.

João Caniço disse...

Filipe, também partilho da mesma opinião. Acho que Quique, como qualquer treinador, em especial estrangeiro, precisa de tempo para se adaptar às especificidades do futebol português e à própria equipa que dirige.
Já 'conhecia' Quique no tempo do Valência e não acho que seja mau treinador. Penso que merecia nova oportunidade, o plantel do Benfica tem qualidade, precisa apenas de 4 ou 5 retoques e aí sim, se no final da época os resultados não fossem bons equacionar-se-ia a sua saída.
Eu sou totalmente adepto da estabilidade do treinador e penso que o Sporting está a fazer a aposta correcta em manter Paulo Bento. Espero que por lá continue muitos e bons anos! Não me canso de afirmar que Ferguson só foi campeão inglês no 'Man Utd' 7(!) anos depois de chegar a 'Old Traford'!
É verdade, mais uma vez o 'Belém' vai-se safar à descida na secretária... A ver se desta a nova direcção planeia a temporada e gere os destinos do clube como deve ser.
Apesar disso é uma pena que um clube emblemático como o Estrela vá desaparecer... Não percebo como é que o estado nega o plano de pagamento das dívidas apresentadas pelo clube e permite que os banqueiros deste país façam o que lhes apetece, derretam o dinheiro onde bem entendem e depois lhe pague as dívidas sem grandes delongas...
Abraços